De todas as eleições resultam vencedores e vencidos, e há um ano atrás, a 30 de janeiro de 2021, tal não foi exceção. Desde logo, e sem dúvidas, pela obtenção de uma (pensava-se) estabilidade governativa de um só partido político, uma meta alcançada por poucos até então.
Com este pressuposto, houve há um ano atrás, um vencedor claro das eleições, o Partido Socialista (PS). Na época, os restantes partidos de esquerda foram perdedores, à exceção do Livre, que trouxe um novo rosto de liderança ao Parlamento. Uma maioria obtida à custa do esmagar e minguar a representatividade da esquerda, que poderia ter sido aproveitada neste tempo decorrido por António Costa.
Também foi inequívoco que os partidos de centro-direita não atingiram os objetivos, com o CDS/PP a desaparecer da Assembleia da República, e os restantes partidos de direita, PSD e Iniciativa Liberal, a mudarem de lideranças, com a exceção do Chega de André Ventura, que sendo o terceiro partido com maior representatividade de eleitos, reforçou o seu papel na vida democrática e tem tido um papel aparentemente importante no desgaste e fiscalização da atual legislatura.
Mas, passado um ano desta maioria absoluta, tudo parece confuso, com o Governo a aparentar estar em cuidados continuados e ligado à máquina, apenas à mercê da vontade do Presidente da República. Entre escândalos e sucessivos episódios trágicos, demissões e contínuas remodelações, de tudo um pouco aconteceu num ano penoso para António Costa, quando todos pensariam que governaria com paz democrática e conforto parlamentar.
Bastaria apenas governar, e só precisaria de um outro partido, o PSD, se ousasse efetuar reformas estruturais ou promover uma (séria) revisão constitucional, pois aí Luís Montenegro, com os seus 78 deputados (antes Rui Rio tinha 79), conserva ainda 34% do número total de mandatos (mais de um terço), determinantes para qualquer iniciativa desta índole passar.
Persistiram dúvidas aquando da eleição de há um ano, como saber se a inequívoca vitória socialista iria ser penalizada por terem liderado uma frente de esquerda, que o eleitorado de centro nunca quis. E como governará durante quatro anos sozinho, com a esquerda minguada pelo voto útil?
Em bom rigor, o PS disparou no número de votos (mais 380.000), porque a esquerda com quem governou perdeu a sua base de apoio, num voto útil (BE, PCP e PAN perderam juntos 430.000 votos), que com 41% dos votos, obteve 52% dos mandatos. O crescimento foi ‘poucochinho’, mas suficiente para ser absoluto. Votaram mais 300.000 Portugueses, e o que o PS cresceu em votos é inferior em 50.000 à queda global do resto da esquerda. Mas fez do PS absoluto, e a maioria conseguida de um Partido só, não menorizou o Parlamento, mas, curiosamente, pôs o Governo à deriva.
Na verdade, esta maioria que seria sinónimo de estabilidade, não tem sentido em Portugal. A euforia de há um ano deu lugar ao sofrimento, e as sondagens já ditam uma inversão inquestionável do eleitorado. O PS, com todos os casos e casinhos que têm ocorrido, não consegue libertar-se das cedências que em tempos fez à esquerda radical, e que levou a um teatro de jogo de sombras e a eleições antecipadas.
O que mais terá de acontecer para que reine a necessária paz política? Veremos em que se transformará este momento trágico da política nacional. Muita expectativa, com o povo sempre a ordenar, a bem de Portugal.