[weglot_switcher]

Airbus otimista devido à forte implantação de mercado dos seus aviões A320 e A220

No momento em que a Boeing desiste da parceria com a Embraer, o fabricante europeu de aviões Airbus ganha otimismo, admitindo que goza de uma situação confortável no mercado mundial dentro do segmento dos seus aviões de médio curso A320 e A220. Sobre a retoma da atividade dos voos comerciais, fonte da Airbus referiu ao Jornal Económico que já “há sinais de lenta recuperação nas viagens domésticas na China”.
27 Abril 2020, 08h00

No momento em que a rival norte-americana Boeing decide não avançar na joint-venture com a brasileira Embraer – que agora fica numa situação insegura, sem saber o que fazer com a nova empresa Yabora, exclusivamente criada para acomodar a fusão Boeing-Embraer –, a europeia Airbus ganha um novo alento de mercado, confiando no potencial dos aviões que produz, em especial, nos modelos A320 e A220, como explicou uma fonte da Airbus ao Jornal Económico.

“Estamos convencidos de que a nossa forte posição competitiva no A320 no mercado dos aviões de corredor único (single aisle) é de particular importância, pois esperamos que esse segmento se recupere mais rapidamente que o segmento de mercado dos aviões maiores (wide body)”, referiu ao JE uma fonte da Airbus, considerando ser “promissor ver que o nosso avião A220 está a evidenciar um nível de utilização acima da média, devido à menor densidade de tráfego em muitas rotas”.

Sobre a evolução do mercado internacional, a Airbus revela que notou, “recentemente, alguns primeiros sinais de lenta recuperação das viagens aéreas domésticas na China”, explicando, no entanto, que “os clientes chineses não foram capazes de receber entregas de aviões no auge da crise, mas temos indicação de que as entregas serão retomadas assim que for operacionalmente possível”.

A Airbus afirma que “esta é, de longe, a crise mais séria pela qual a nossa indústria já passou” e, “para alguns, pode ser uma questão de sobrevivência: alguns dos nossos clientes, parceiros e fornecedores estão a passar por um período muito difícil e lutam por tentar sobreviver”.

Na Airbus, “estamos a adotar e continuaremos a tomar todas as medidas necessárias para proteger o futuro da empresa no interesse de todos os nossos stakeholders, mas também do setor como um todo”, adianta a fonte, considerando que “isso garantirá que possamos retornar as operações normais assim que a situação melhorar”.

“Prevemos um nível muito menor de pedidos para os próximos meses”, adianta a fonte da Airbus, explicando que “não temos uma onda de cancelamentos de encomendas no curto prazo, mas temos muitos pedidos de adiamento, e de diferimentos, para facilitar a situação em 2020 às companhias aéreas e, às vezes, também para 2021 – é esse o pedido deles”. Quanto aos “aviões que provavelmente não serão entregues em 2020, decidimos que não vamos produzi los”.

“Estamos a analisar o que os clientes estão dispostos ou capazes de aceitar, bem como a forma como gerem as suas perspetivas no médio prazo” e “temos em stock mais de 7600 aviões, dos quais, entre os modelos de um corredor (SA – Single Aisle) há cerca de 6200 aeronaves da família A320”, informa a fonte do fabricante europeu. “Temos uma equipe especializada em vendas, operações e finanças, e estamos em contato próximo com nossos clientes, trabalhando com eles para gerir a situação”, concluiu a mesma fonte.

A infraestrutura fabril da Airbus não se encontra toda na Europa. Entre as unidades que foram paradas por efeito da pandemia da Covid-19 encontra-se a fábrica da Mobile, no Estado do Alabama, onde produz os aviões de passageiros das famílias A220 e A320, onde têm estado sem laborar cerca de 1.100 trabalhadores, que não foram despedidos. É em França que se concentra a maior capacidade de produção da Airbus, onde cerca de três mil trabalhadores estarão sem laborar entre 20 de abril e meados de maio, designadamente nas unidades de Toulouse, Nantes e Saint-Nazaire.

Neste enquadramento, a Airbus admitiu, no início de abril, que diminuirá a produção dos seus aviões comerciais em cerca de um terço, para adaptar a cadência de montagem de novos aviões às necessidades dos clientes, ou seja, das companhias de aviação de das sociedades de leasing de aviões.

Agora, com o fim do projeto de parceria entre a rival norte-americana Boeing e a brasileira Embraer, a Airbus deixa de sentir tanta pressão concorrente. A parceria Boeing-Embraer tinha ficado latente desde 2017. Entretanto, diversos fabricantes de aviões saíram de cena, como a holandesa Fokker, falida em 1996, concentrando a produção concorrente de aviões do segmento entre 50 e 150 lugares nos fabricantes Embraer e Bombardier, ficando a Boeing e a Airbus no segmento dos aviões de médio e longo curso (com mais de 150 lugares). No quarto trimestre de 2017 a Airbus comprou – por um dólar – a linha de produção dos aviões da Bombardier, pressionando a Boeing a avançar para a parceria com a Embraer, de que desistiu no final de abril de 2020.

A Airbus apresentou em 2019 um prejuízo de 1,36 mil milhões de euros, o que compara com um lucro de 3,05 mil milhões de euros apresentado em 2018. No ano passado a Airbus foi confrontada com uma descida de 73% no seu resultado operacional, que passou de 5,05 mil milhões de euros para 1,34 mil milhões, segundo o comunicado oficial da empresa.

Este desempenho foi afetado por 3,6 mil milhões de euros de multas que a Airbus pagou para encerrar um longo processo por corrupção que correu nos EUA, no Reino Unido e em França. Por isso, o seu resultado operacional ajustado – expurgado de fatores não recorrentes, como as multas – aumentou 19%, elevando-se a 6,95 mil milhões de euros em 2019. As receitas da Airbus no ano passado aumentaram 11%, ascendendo a 70,48 mil milhões de euros, segundo o mesmo comunicado. Antes da crise da pandemia da Covid-19, a Airbus tencionava entregar em 2020, aos seus clientes, 880 aviões comerciais e progredir até chegar a um resultado operacional ajustado de 7,5 mil milhões de euros.

Copyright © Jornal Económico. Todos os direitos reservados.