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Ajudar os sírios a lidar com a depressão

A depressão é um grande desafio para a saúde e é o foco do Dia Mundial da Saúde 2017. “Depressão: Vamos Falar” reconhece que a depressão é uma condição tratável e procura abordar o facto de que cerca de 50% dos casos de depressão não são tratados.
7 Abril 2017, 21h25

“Nós chamamos a depressão de ‘bola de neve preta’”, diz B. Hussain, psicólogo que trabalha na cidade de Gaziantep, no sudeste da Turquia. Hussain trabalha com alguns dos cerca de 3 milhões de refugiados sírios que escaparam para a Turquia e foram acolhidos desde que começou a Guerra.

Como a maioria dos refugiados em todo o mundo, os sírios que vivem na Turquia estão sob tremendo stresse psicológico. Durante anos de conflito, muitos perderam entes queridos, as suas casas, os seus meios de subsistência e o futuro tornou-se ainda mais confuso, complicado e distante. Depois de escaparem às bombas, a ansiedade, o transtorno, o stresse pós-traumático e outras doenças psicológicas instalaram-se nos refugiados.

Mas para alguns refugiados, o sofrimento que eles experimentaram acumula-se, e a bola de neve negra fica maior. Pode levar à depressão grave. Para aqueles que já estavam predispostos à depressão antes da crise, o perigo é ainda maior.

Dia sete de abril é marcado pelo Dia Mundial da Saúde, e a Organização Mundial de Saúde (OMS) escolhe todos os anos um tema, e este ano é a depressão.

Neste artigo, a OMS descreve uma história de um médio, Hussain, onde o seu primeiro nome não é revelado. Um médico que ajuda (ou pelo menos tenta) tratar a depressão nas pessoas que já não tem família, amigos, país.

“Isolados e afastados”

Hussain descreve um homem sírio de 30 anos que chegou à Turquia sozinho. “Ele já tinha tendência em ficar deprimido”, diz Hussain. “E perdeu muitos amigos – eles foram mortos na Síria. Encontrou-se aqui sem amigos, nada. Ficou severamente isolado e afastado”.

De alguma forma, o homem sírio fez o seu caminho até ao centro de saúde onde trabalha o médio Hussain. “O homem disse: Vou ter cinco sessões. Se não funcionar, vou suicidar-me”.

Ajudar os sírios perturbados

Hussain e outros médicos têm ajuda da OMS para complementar a sua própria educação e experiência. Na Turquia e no norte da Síria, a OMS fornece materiais, treino e outro tipo de apoios a grupos e profissionais de saúde mental.

“Há apenas 2 psiquiatras agora no norte da Síria. É uma lacuna enorme “, diz o Dr. Fuad Almosa, psiquiatra de Gaziantep que, como Hussain, faz parte de um grupo de trabalho da OMS sobre saúde mental para os sírios. “Por esse motivo, se houver mais 37 médicos no norte da Síria, ajuda e muito”. Almosa está a referir-se a 37 médicos que foram treinados no ano passado, no Programa de Ação de Saúde Mental da OMS (mhGAP), um programa para identificar e tratar distúrbios psicológicos, incluindo depressão. Os médicos treinados recebem supervisão clínica online e acompanhamento.

A OMS fornece formação para médicos sírios que agora vivem na Turquia. Em algumas partes da Turquia com uma grande percentagem de refugiados sírios, a OMS está a trabalhar para assegurar que os centros de cuidados de saúde primários criados especificamente para os refugiados sejam dotados de dois peritos em saúde mental.

“Quando os pacientes vêm ter comigo com problemas psicológicos, eu costumo encaminhá-los para esses especialistas”, diz um médico de família que trabalha perto da fronteira com a Síria e que esteve no programa mhGAP em março deste ano. “Mas eu sei que às vezes as pessoas não podem ir para onde os encaminho – eles não têm sequer o dinheiro para um bilhete de autocarro. Depois de ter a formação com  OMS decidi que tentaria ajudá-los.”

A OMS também treina membros da comunidade que podem ser uma primeira linha de defesa para ajudar os sírios com depressão.

Adaptação dos serviços de saúde mental à cultura

Almosa diz que os trabalhadores de saúde mental no norte da Síria estão a usar abordagens que são aceitáveis ​​na sua cultura.

“Certas abordagens de saúde não eram aceitáveis. Por exemplo, havia um centro de saúde mental perto de uma prisão enorme. Isto cria estigma. É melhor quando se presta serviço perto da população”, diz o médico. “Torna-o mais próximo da comunidade.”

Como parte dessa abordagem, a OMS planeia financiar um centro de saúde mental numa cidade síria chamada Sarmada, em Idleb, bem como uma clínica móvel de saúde mental que “atingirá vilas distantes”, de acordo com o Dr. Manuel de Lara, médico de saúde pública da OMS. O centro e a clínica serão formados por profissionais treinados do grupo de Hussain. “Será uma equipa de resposta rápida em saúde mental”, explica Manuel de Lara. “Se há doentes com cass graves, podem ser levados imediatamente para o centro de saúde mental em Sarmada, ou podem mesmo ser encaminhados para a Turquia.”

Planeando o futuro

Os psicólogos também variam as abordagens com base nas necessidades do momento. Às vezes, a terapia de grupo é eficaz. Por exemplo, a terapia para crianças deve ser especialmente adaptada.

Apesar dos imensos obstáculos, os membros do grupo de trabalho da OMS conseguiram ajudar milhares de pessoas na Síria e milhares de refugiados na Turquia. O jovem suicida que Hussain tratou está “de volta à sua vida normal: tem planos para o futuro, novos amigos, um novo emprego e uma noiva”, segundo Hussain.

Desafios permanecem. O impacto do conflito sírio é imenso e durará, dizem os especialistas. “Agora, os sírios estão em modo de sobrevivência e negação”, diz Hivin Kako da organização ‘Bihar Relief’. “Quando este conflito parar, vamos precisar de um exército de especialistas em psicologia.”

De Lara concorda que deve haver grandes apostas para ajudar os sírios, que estão a sofrer uma grande carga emocional. “Se não houver serviços de saúde mental agora”, avisa, “perderemos o futuro”.

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