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Alemanha. Do “não” a Kyiv até ao envio da “mais moderna artilharia”

Primeiro chegou o anúncio do envio de 5.000 capacetes e um hospital de campanha. Só dois dias depois da Rússia ter lançado uma ofensiva militar na Ucrânia, a 26 de fevereiro, a Alemanha decidiu enviar armas antitanque e sistemas de defesa antiaérea para Kiev, contrariando a política que vinha seguindo até então.
15 Maio 2022, 11h39

A pressão que chega do exterior, e de dentro do próprio governo, fez o chanceler Olaf Scholz repensar a ajuda disponibilizada à Ucrânia, passando do “não”, dado fevereiro, ao envio de moderna artilharia e blindados.

Primeiro chegou o anúncio do envio de 5.000 capacetes e um hospital de campanha. Só dois dias depois da Rússia ter lançado uma ofensiva militar na Ucrânia, a 26 de fevereiro, a Alemanha decidiu enviar armas antitanque e sistemas de defesa antiaérea para Kiev, contrariando a política que vinha seguindo até então.

O chanceler do Partido Social Democrata alemão (SPD), que partilha governo com os Verdes e os Liberais, revelou também na altura o reforço do investimento na área da defesa. Scholz foi acusado de protelar a entrega de armamento pesado à Ucrânia e de bloquear a proibição total ao petróleo e gás russos.

Scholz precisa “não apenas de franzir os lábios, mas de começar a assobiar”, revelou Marie-Agnes Strack-Zimmermann, presidente do comité de defesa dos Liberais no Parlamento alemão, em abril.

“O problema está na chancelaria”, admitiu Anton Hofreiter, dos Verdes, em declarações à Deutsche Welle. “Temos finamente que começar a fornecer à Ucrânia o que ele precisa, e isso são armas pesadas”, disse, em abril.

Scholz, no poder desde dezembro, justificava a decisão com a possibilidade da Alemanha ser considerada parte da guerra e isso desencadear um conflito nuclear com a Rússia, o que não convenceu os seus aliados nem membros do governo.

Só no final de abril, sob pressão dos Estados Unidos, de outros aliados e da própria Ucrânia, a Alemanha deu um passo em frente, anunciando o fornecimento de tanques e artilharia à Ucrânia. Tarde demais para a popularidade do líder do governo e do seu partido.

“Por um lado, tem um significado simbólico. É a maior potência económica da Europa a enviar um sinal a Kiev, a Moscovo, e também aos seus aliados, que está disponível e pronta para ajudar a Ucrânia, não apenas agora, mas daqui em diante”, revelou à Lusa Marcel Dirsus.

Para o politólogo e investigador não-residente no ISPK — Instituto de Política de Segurança da Universidade de Kiel, a mudança de rumo por Scholz traz ainda outra consequência.

“Esta ajuda vai causar uma diferença significativa no terreno porque todo os aliados concordaram que a Ucrânia precisa, sobretudo, de artilharia. O que a Alemanha está a enviar são precisamente os mais modernos sistemas de artilharia do mundo, e isso pode mesmo fazer diferença”, sublinhou.

Nas eleições regionais realizadas a 8 de maio, no estado federado de Schleswig-Holstein, o SPD obteve o pior resultado de sempre, caindo do segundo para o terceiro lugar, e oferecendo à União Democrata-Cristã (CDU), partido da antiga chanceler, Angela Merkel, uma confortável vitória.

De acordo com uma sondagem da ARD, realizada no território alemão e divulgada a 28 de abril, 45% dos inquiridos eram a favor do envio de armas pesadas para a Ucrânia, e a mesma percentagem, 45%, eram contra. No início de abril, cerca de 55% apoiavam a decisão.

A 6 de maio, o governo de Berlim anunciou que forneceria à Ucrânia sete PzH 2000, o blindado autónomo mais sofisticado do mundo. Da encomenda, farão parte também 50 viaturas de combate antiaéreo Gepard.

“Pela primeira vez na nossa história do pós-guerra, enviamos armas, incluindo armas pesadas, para uma zona de guerra, em grande escala e sempre pensando cuidadosamente”, disse Scholz num discurso no domingo para marcar o 77º aniversário da vitória dos Aliados na Segunda Guerra Mundial.

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