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Alt Commerce e a transformação digital no retalho

A linearidade não combina com os novos hábitos dos consumidores, que estão cada vez mais conectados e avessos aos tradicionais conceitos de venda. A juntar a todas estas mudanças, há ainda o Metaverso.
19 Julho 2022, 08h10

O avanço da digitalização dos negócios durante a pandemia fez com que o retalho se transformasse num setor muito mais dinâmico. Também para responder às necessidades de um público que já derrubou as barreiras entre o online e o offline e que abraçou um mundo “não linear”, e que anuncia a substituição do e-commerce pelo alt-commerce, ou alternative commerce, que mais não é que o surgimento de canais de venda não tradicionais, misturados com o social commerce. Além de comprar um produto para satisfazer uma necessidade de consumo, as novas modalidades geram entretenimento na experiência de compra.

As empresas precisam de expandir os seus negócios e garantir ao consumidor todas as formas possíveis para adquirir um produto e isso está diretamente ligado a diferentes tecnologias como o metaverso ou até mesmo plataformas de live commerce. A geração Z, que em 2030, terá maior poder de compra do que millennials e boomers juntos, já consome o equivalente ao PIB da Islândia no TikTok e já há muito tempo que está familiarizada com a realidade aumentada e com a realidade virtual.

O principal desafio para quem trabalha no retalho será sair da mentalidade de omnichannel e procurar uma nova realidade, com mais inovação, tecnologia e entretenimento. E esse desafio começa por estruturar um modelo de abastecimento que abrace todos os canais, um passo fundamental, mas que não é o suficiente quando o assunto é Alt Commerce. É preciso haver uma automatização da distribuição dos produtos, integrar diferentes meios de pagamento, além de promover modelos híbridos de entrega.

Chegámos a um ponto em que comprar online e levantar na loja física, ou comprar na loja e receber em casa, não é mais o desejado, é o mínimo esperado pelo consumidor. Agora temos situações em que um produto é vendido numa dimensão como o metaverso e utilizado apenas no mundo virtual – compras reais mas que estão apenas na dimensão digital, ou ainda compras feitas por voz via inteligência artificial. O Alt Commerce apresenta-se com infindáveis de opções, inclusivamente para que a experiência de compra se assemelhe a um espetáculo de entretenimento, seja com a gamificação ou com influenciadores a testar produtos através de vídeo.

A modalidade de vendas por vídeo é uma das opções quando pensamos em Alt Commerce, isto porque há uma entrega completa de experiência e relacionamento com conexão real e instantânea com os consumidores, além de levar para dentro de casa a humanização sentida nas lojas físicas. Como? Através de uma plataforma de live commerce, a marca consegue  apresentar os seus produtos, interagir com os clientes e converter novas vendas em um só lugar. E além do formato único e das possibilidades de interação da marca com o público, o live commerce possibilita que o consumidor participe diretamente na construção da narrativa, fazendo parte de tudo o que acontece neste processo.

A saída do omnichannel abre portas ao omnifulfillment, formado por lojas que funcionarão basicamente como centros de logística integrados, sem filas de pagamento e sem corredores que nunca mais acabam. É o crescimento das chamadas dark stores, que desde 2021 têm tido um aumento da procura em Portugal, ou seja, é um conceito que combina loja com o espaço de armazém e cujo objetivo é encurtar a distância entre o produto do lojista e o consumidor final, permitindo entregas no próprio dia ou no dia seguinte.

Falo de um modelo formado por lojas que funcionarão como um hub para entrega de produtos. O “ship from store” vai tratar as lojas como mini centros de distribuição, ou ainda como pontos de levantamento de produtos.

No fundo, a linearidade não combina com os novos hábitos dos consumidores, que estão cada vez mais conectados e avessos aos tradicionais conceitos de venda. Bem como o aparecimento de cada vez mais “cloud kitchens” (ou ghost kitchens, cozinhas fantasma), que são cozinhas que existem com o único objetivo de fazer comida para entrega.

A juntar a todas estas mudanças, há ainda o Metaverso. O mundo inteiro tem vindo a ser desafiado a pensar em possibilidades de venda em ambientes imersivos, algo que já deixou de ser futurista e entrou na agenda das grandes marcas. No mercado de luxo, por exemplo, a Ralph Lauren e a Balenciaga olham para as lojas virtuais do metaverso como uma forma de testar coleções, construir reconhecimento de marca e vender. O chamado meta-commerce pode ser a maior oportunidade da história de vendas e de marketing para as empresas.

No entanto, é importante os retalhistas perceberem se a sua empresa está pronta para todas estas mudanças. Se a empresa ainda agora se iniciou no e-commerce, não deve queimar etapas e saltar para uma integração massiva dos canais de venda. As mudanças já são uma realidade e vão exigir um processo de adaptação das empresas, através da definição de metodologias para cada etapa de crescimento.

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