Em 1979, a democracia portuguesa era vibrante. Entre 1976 e 1980 houve quatro governos e primeiros-ministros – Mário Soares, Alfredo Nobre da Costa, Carlos Mota Pinto e Maria de Lourdes Pintasilgo.

Francisco Sá Carneiro, Diogo Freitas do Amaral, Gonçalo Ribeiro Telles, António Barreto, José Medeiros Ferreira e Francisco Sousa Tavares, respetivamente do PPD/PSD, CDS, PPM e Reformadores formaram uma coligação de centro-direita designada por Aliança Democrática. A AD concorreu às eleições legislativas intercalares de 1979 e às eleições legislativas gerais de 1980 obtendo 45,26% dos votos (128 deputados em 250) e 47,59% (134 deputados em 250).

A aliança foi convidada a formar governo liderado por Francisco Sá Carneiro, até à sua morte em dezembro de 1980. Francisco Pinto Balsemão substituiu Sá Carneiro à frente do PSD e do governo até 1982. Foi o ano da revisão constitucional que iniciou a afirmação de Portugal como democracia europeia e liberal. O PS era oposição e ganhou as eleições seguintes em 1983. Foi derrotado dois anos depois pelo PSD de Aníbal Cavaco Silva que chefiou governos até 1995. As eleições desse ano foram ganhas pelo PS de António Guterres que abandona o governo em 2002.

São anos fatais para Portugal de declínio progressivo a todos os níveis. Guterres retira-se invocando o “pântano” e o PS perde para o PSD de José Manuel Durão Barroso, que mais tarde clama que o país “está de tanga”, e também se retira, sucedendo-lhe Pedro Santana Lopes.

De 2005 a 2011 foi o desmando e o desgoverno do PS de José Sócrates. O país foi salvo da catástrofe financeira pelo PSD de Pedro Passos Coelho, que ganhou as eleições seguintes e governou até 2015 com o apoio do CDS de Paulo Portas e do esforço dos portugueses.

Depois, entramos na era dos governos minoritários do PS de António Costa, apoiados por comunistas e bloquistas, que hoje perdura. Beneficiou das medidas de correção financeira levadas a cabo pelo governo do PSD e pelo sacrifício dos portugueses, impostas de maneira duríssima pelos credores internacionais, e da subsequente conjuntura internacional favorável que os empresários e os empreendedores portugueses, com coragem e esforço, souberam aproveitar. Mas, em termos gerais, o nosso nível de vida está igual ao que era há 20 anos.

Eu diria que seria fácil fazer oposição hoje, apesar do goodwill com que o coronavírus bafejou o Governo de António Costa. Todavia, se o PS não previne o nepotismo e a corrupção cairá no desmando do PS de Sócrates. O PCP mantém-se fiel ao partido de Cunhal e de Vasco Gonçalves. O BE nunca foi devidamente classificado como partido também comunista mas com táticas mais insidiosas.

Como todos sabemos, infelizmente, hoje não há oposição política organizada. O centro-direita político não existe. O PSD decidiu eleger para líder um homem que não quer ser oposição. Por vezes diz coisas acertadas, outras vezes totalmente erradas e de consequências negativas, não apenas para a credibilidade do seu partido, como para a confiança nos políticos de centro-direita.

O CDS, a quem nesta coluna aconselhei em devido tempo a regressar às origens e afirmar-se como partido democrata-cristão, virou não se sabe em quê. Este momento, este preciso momento de pandemia, seria uma extraordinária oportunidade para um CDS democrata-cristão se afirmar: milhões de portugueses estão com os olhos postos em Deus, no Papa Francisco e na Igreja Católica – força cívica-religiosa com renovada influência que se apresenta com os valores humanistas e respeitadores da legalidade democrática que os portugueses esperariam ver respeitados por esses mesmos partidos políticos que produzem leis que depois não respeitam.

A Iniciativa Liberal (IL) é uma esperança, faz oposição construtiva, mas precisa de se afirmar com uma única grande ideia, muito bem concebida e posta em prática, muito repetida para chegar mais longe que os eleitores urbanos de Lisboa e Porto.

O título desta crónica sugere a criação de uma aliança como foi a AD, que se apresente com credibilidade como alternativa à maioria das esquerdas. O problema é que há não líderes. O líder do PSD não é líder e transformou-o num partido zombie. O CDS está ligado ao ventilador. A IL não tem o peso específico que tinham os Reformadores. Precisa de mais gente com voz respeitada.

Pelo que, uma aliança entre partidos e forças de centro-direita que dissesse aos portugueses estamos convosco (social), com as vossas famílias (cristã) e estamos com cada um de vós (liberal) tem hoje fraquíssimas possibilidades de se constituir.

Mas nunca se sabe se os militantes do PSD mudam de ideias e elegem um líder a sério, que proponha uma estratégia de crescimento clara, entendida e compartilhada pela maioria dos eleitores, pelos empresários e pelos empreendedores, pelos sindicatos democráticos e pelas organizações socioculturais. Que os que restam do CDS elejam um líder e adotem claramente a democracia-cristã. Que a IL consiga comunicar que a afirmação na capacidade, maioridade e determinação de cada português é a política que melhor serve o interesse da maioria dos portugueses e do Estado português.