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Amazónia brasileira registou este ano o maior número de incêndios desde 2010

A Amazónia brasileira não ardia tanto desde 2010, quando o Inpe, um órgão governamental, registou 72.946 fogos na região.
  • Bruno Kelly/Reuters
11 Setembro 2020, 08h26

A Amazónia brasileira registou, entre 01 de janeiro e 09 de setembro deste ano, 56.425 focos de incêndio, o maior número para o período desde 2010, segundo dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) do Brasil.

Trata-se de um crescimento de cerca de 6% em relação ao mesmo período de 2019, quando se contabilizaram 53.023 incêndios, e quando as imagens das chamas naquela que é a maior floresta tropical do planeta circularam pelo mundo e geraram indignação.

A Amazónia brasileira não ardia tanto desde 2010, quando o Inpe, um órgão governamental, registou 72.946 fogos na região.

Os dados do órgão contradizem o atual executivo brasileiro, liderado pelo Presidente Jair Bolsonaro, que tem feito campanha negando que a Amazónia esteja a arder.

Exemplo disso é um vídeo divulgado esta semana pelo Governo, que diz que o “Brasil é o país que mais preserva as suas florestas nativas no mundo”.

“Essas queimadas na Amazónia são culturais e de pequena proporção”, indica o vídeo difundido pelo Governo, um argumento que tem sido recusado por ambientalistas e vários observadores.

O vídeo, produzido pela Associação de Criadores do Pará (AcriPará), um grupo formado por fazendeiros produtores de gado, foi divulgado na quarta-feira à noite nas contas da rede social Twitter do vice-presidente brasileiro e chefe do Conselho Nacional da Amazónia Legal, Hamilton Mourão, e do ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles.

“De que lado você está? De quem preserva de verdade ou de quem manipula os seus sentimentos? O Brasil é o país que mais preserva as suas florestas nativas no mundo. Essa é a verdade. Nós cuidamos!”, escreveu Mourão na mensagem que acompanha o material audiovisual.

https://twitter.com/rsallesmma/status/1303820431166705665

“Recebi este vídeo, a Amazónia não está queimando”, indicou por sua vez Salles, ao publicar o mesmo conteúdo.

No início do mês, a Amnistia Internacional alertou para o “número alarmante” de novos incêndios que lavram na Amazónia brasileira, acusando as autoridades do país de não protegerem a terra e os direitos humanos naquela floresta tropical.

A organização não-governamental (ONG) destacou ainda que a desflorestação na região aumentou 34,5% entre agosto de 2019 e julho de 2020 em comparação com o mesmo período de 2018 e 2019, destruindo uma área total de 9.205 quilómetros quadrados.

Parte dos incêndios na região amazónica costumam ser iniciados intencionalmente por grileiros, indivíduos que tomam posse de terras ilegalmente e desflorestam a área para criar pastagens.

A pecuária é a principal causa de ocupação ilegal de terras em reservas e territórios indígenas na Amazónia brasileira, alimentando o desflorestação e afetando os direitos dos povos indígenas e residentes nativos.

No total, 63% da área desflorestada na Amazónia, de 1988 a 2014, tornou-se pasto para gado, numa área cinco vezes maior que Portugal, segundo um relatório publicado pela Amnistia Internacional no ano passado.

A Amazónia é a maior floresta tropical do mundo e possui a maior biodiversidade registada numa área do planeta, com cerca de 5,5 milhões de quilómetros quadrados, e inclui territórios do Brasil, Peru, Colômbia, Venezuela, Equador, Bolívia, Guiana, Suriname e Guiana Francesa (pertencente à França).

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