À boleia da estreia, no dia 15 de dezembro, do documentário “Os anos super 8”, que a autora apresentou na Quinzena dos Realizadores, em Cannes, numa corealização com o seu filho, David Ernaux-Briot, deixamos também uma sugestão de leitura, “Um Lugar ao Sol seguido de Uma Mulher”, de Annie Ernaux, Nobel da Literatura 2022, esgotado há duas décadas no mercado português.

“Ao rever os nossos filmes em super 8, filmados entre 1972 e 1981, percebi que não eram apenas um arquivo familiar, mas um testemunho do passado, estilo de vida e aspirações de uma classe social na década que se seguiu a 68. Queria incorporar essas imagens silenciosas numa história que juntasse o íntimo ao social e à história, para transmitir o sabor e a cor daqueles anos”, lê-se no site da Midas Filmes, que estreia esta “visão” de Annie Ernaux no dia 15 de dezembro.
O documentário “Os anos super 8” – cujas imagens foram resgatadas ao arquivo da família, tendo sido registadas pelo seu marido, Philippe Ernaux, entre 1972 e 1981 – deixa no ar um retrato de época, em que algures se ouve dizer que a câmara de filmar, a Super 8, “é um objeto desejado por excelência, muito mais que uma máquina de lavar louça ou um televisor a cores”.
Paralelamente, volta a estar disponível no mercado português a obra “Um Lugar ao Sol seguido de Uma Mulher”, esgotado há 20 anos. A reedição tem chancela da Livros do Brasil e já está disponível nas livrarias.

Duas mortes, infinitamente marcantes, digeridas pela autora através da escrita, “Um Lugar ao Sol seguido de Uma Mulher” reúne os dois textos de Annie Ernaux sobre a perda dos pais: “Um Lugar ao Sol”, publicado em 1984 e vencedor do Prémio Renaudot, é sobre o pai, e “Uma Mulher”, editado quatro anos depois, é sobre a mãe. Misto de biografia, sociologia e história, marcada pela ambivalência dos sentimentos que unem filhos e pais e o impacto doloroso da quebra desse elo vital.
“Parece-me que agora escrevo sobre a minha mãe para, por minha vez, a trazer ao mundo”, escreve a Prémio Nobel de Literatura 2022 sobre aquela que é “a única mulher que contou verdadeiramente” para si. Já sobre o progenitor – e o seu universo de medo e vergonha –, admite: “eu talvez escreva porque não tínhamos nada para dizer um ao outro”.