O ano de 2020 não começou decididamente da melhor forma.

No panorama internacional, a decisão norte-americana de promover um ataque aéreo que provocou a morte do general iraniano Qassem Suleimani e a retaliação iraniana, ao lançar mísseis balísticos contra duas bases militares com tropas norte-americanas no Iraque (Al Assad e Erbi), trouxe fortes receios que o Médio Oriente possa mergulhar numa onda de violência que ponha em causa o sempre frágil equilíbrio numa das regiões mais instáveis do planeta, com consequências certamente muito nefastas para a economia mundial.

Enquanto isso, na Austrália, a vaga de incêndios que grassa há mais de três meses já consumiu mais de seis milhões de hectares, provocando a morte de várias pessoas e uma enorme devastação da fauna e da flora, num processo que não pode deixar de se ligar às alterações climáticas resultantes da intervenção do Homem na natureza.

No Reino Unido, o Brexit parece, mais do que nunca, aproximar-se inexoravelmente, sem que se conheça toda a extensão das consequências que dele derivarão, quer para os britânicos, quer para os restantes membros da União Europeia.

No Brasil, a Amazónia parece cada vez mais estar à mercê dos interesses económicos, fazendo com que este pulmão do planeta, que abriga cerca de 50% da biodiversidade mundial, encolha diariamente, pondo em risco populações e natureza.

Em Portugal, a entrada no ano de 2020 foi mais pacífica, sendo o tema mais importante a votação do orçamento, que poderá, em caso de chumbo, fazer o país cair num limbo político, com a necessidade de chamar novamente a população às urnas, num processo que parece cada vez mais assemelhar-se ao que marcou no ano passado a nossa vizinha Espanha.

2020 parece ter todos os ingredientes para se tornar um annus horribilis, numa altura em que as populações de muitas das grandes potências mundiais parecem deixar-se seduzir pelos encantos das lideranças populistas, capazes de lhes prometer o mundo, mesmo que tal signifique o sacrifício do frágil planeta em que habitamos.

A humanidade tem que saber preservar a sua casa comum, sob pena de virmos a cair num Armagedão que levará a que dificilmente reste pedra sobre pedra, fazendo com que o planeta mergulhe numa nova Idade Média da qual não será fácil erguer-se. Nunca fomos tão evoluídos do ponto de vista científico, mas, paralelamente, parece nunca termos sido tão ignorantes do ponto de vista ideológico e emocional.