O futuro aos olhos do National Security Council (NSC) dos EUA não é nada otimista, mas ainda pode ser melhorado. Pelo menos no que toca a alguns dos desenvolvimentos agora previstos no relatório “The Global Trends 2040 – A More Contested World”, que aponta tendências e cenários no horizonte das próximas duas décadas. Criado na presidência de Truman, o NSC é o principal fórum do Presidente para analisar assuntos de segurança nacional e política externa norte-americana.

A incerteza e a instabilidade marcam o tom deste mais recente documento e nos fatores-chave que impulsionarão a mudança, de acordo com a análise, encontram-se a volatilidade política e o aumento da vulnerabilidade das democracias.

A nível internacional, os analistas do NSC antecipam que a intensidade da competição pela influência global atinja o seu nível mais alto desde a Guerra Fria nas próximas duas décadas, ao mesmo tempo que instituições como as Nações Unidas prosseguem o seu enfraquecimento. As organizações não governamentais, incluindo grupos religiosos e as chamadas “empresas tecnológicas superestrelas”, poderão também ter a capacidade de construir redes que concorram com os próprios Estados e Governos, ou pelo menos os contornem.

O risco de conflito poderá aumentar e potenciar terroristas de extrema-direita e de extrema-esquerda em torno de temas como o racismo, o ambientalismo e o extremismo antigovernamental, recorrendo à inteligência artificial para se tornarem mais perigosos ou usando a realidade aumentada para criar “campos de treino de terroristas virtuais”.

O facto de este relatório ser composto por cenários hipotéticos com base em análises e previsões não torna o documento menos interessante ou útil. Ele permite antecipar movimentos e acontecimentos e deve ser tido em conta para as tomadas de decisão. Quer ao nível político, quer económico.

Neste aspeto e no que mais dirá respeito a Portugal, os analistas destacam que durante as próximas décadas os custos económicos do envelhecimento demográfico irão pressionar as finanças públicas. “Reduzir os rácios das dívidas nacionais durante os próximos 20 anos será provavelmente ainda mais desafiante do que durante a década que se seguiu à crise financeira” alertam os autores.

Finalmente, o relatório considera que o crescimento económico lento em algumas economias deverá reduzir as receitas fiscais e prejudicar a capacidade dos governos para reduzir as despesas, devido à necessidade de investir na recuperação económica e em infraestruturas, ou de responder aos efeitos de alterações climáticas.

As economias que financiaram pelo menos parte da sua dívida com empréstimos externos poderão ter que enfrentar uma crise de dívida, mesmo se as taxas de juro globais permanecerem baixas e, afirma-se, é provável que alguns governos se vejam confrontados com a escolha entre a contenção da despesa pública, arriscando o descontentamento geral, ou a continuidade dos gastos públicos, aumentando ainda mais a dívida e os custos de empréstimos.

Perante estes e outros cenários, a utilidade da informação contida no relatório é a de antecipar e salvaguardar a capacidade de resposta através das mais adequadas políticas públicas nestes próximos 20 anos. Quiçá o próximo seja menos pessimista.

 

 

Disponível para download gratuito no site da Fundação Francisco Manuel dos Santos, recomendo a leitura do novo estudo sobre “Sistemas de Transportes em Portugal” coordenado por Carlos Oliveira Cruz, professor no Instituto Superior Técnico e investigador do CERIS – Civil Engineering Research and Innovation for Sustainability. As dinâmicas económicas e financeiras e as políticas públicas com impacto no sector são analisadas de uma forma estimulante para o debate sobre este tema, tão relevante para a nossa competitividade.

 

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