É pequena a fatia de jovens trabalhadores que estão hoje sindicalizados. Um estudo feito pela Universidade Católica Portuguesa para o Conselho Nacional de Juventude (CNJ), que será apresentado esta segunda-feira, dá conta de que apenas 2,4% dos inquiridos estavam ligados a este tipo de estruturas que representam os trabalhadores. “Temos de perceber como é que vamos repensar os sindicatos”, sublinha, em reação, Rui Oliveira, presidente do CNJ, em declarações ao Jornal Económico.
De acordo com a análise da Universidade Católica, que teve por base uma amostra de 931 inquiridos dos 18 aos 30 anos, é entre os jovens de esquerda, pró-independentes financeiramente e pertencentes à faixa etária dos 26 aos 30 anos que se regista uma maior taxa de sindicalização.
E entre as formas de participação política juvenil, os sindicatos são aqueles que saem pior na fotografia: contra os tais 2,4% de sindicalização, aparecem os 34,7% do associativismo, os 22,7% da participação em campanhas eleitorais e os 17,5% da participação em partidos políticos.

“Os sindicatos têm captado cada vez menos jovens”, salienta, assim, Rui Oliveira, que apela a uma revisão dessas estruturas, uma vez que os portugueses de mais tenra idade têm hoje, por exemplo, “novas vias através das quais lhes chega a informação”.
“Os sindicatos ocupam um papel importante na representação dos trabalhadores”, reconhece o presidente da CNJ, explicando que os jovens ficam “mais vulneráveis” e mais expostos a más condições laborais sem estas estruturas, daí a necessidade de os tornar novamente atrativos para as populações mais novas.
Por outro lado, “a suspeita de que os jovens estão alheados da política”, nas palavras de Rui Oliveira, são desmentidas por este estudo, frisa. É que, segundo o inquérito, 89,6% dos jovens já votaram nalgum momento da sua vida.
“Uma coisa que nos surpreendeu é que, ao contrário do discurso dominante de que os jovens estão a desligar-se da política, este estudo mostra que há participação, e muito interesse e vontade de participar politicamente”, salienta Raquel Matos, professora universitária e uma das autoras da análise que será divulgada esta segunda-feira. “A maior parte dos jovens já votou e isso é digno de registo”, insiste, em conversa com o JE.
Mas nem todos os momentos de eleições são iguais entre si. É que enquanto 81,8% dos jovens dizem já ter ido às urnas em eleições legislativas, só 45,6% revelam tê-lo feito nas eleições europeias. Raquel Matos atribuiu essa discrepância ao fator da proximidade. “O que mobiliza é a proximidade. Não temos dados sobre eventualmente uma descrença na Europa”, adianta.
De notar ainda que 79,1% dos jovens dizem já ter votado em eleições autárquicas e 76,6% em eleições presidenciais, ambas muito acima da percentagem relativa às europeias, o que confirma o argumento da professora.
“Não é verdade que os jovens estão alheados da política, mas são claros ao dizerem que querem novos modos de fazer política”, atira, por sua vez, Rui Oliveira, que releva que estes cidadãos sentem hoje que não têm voz nos órgãos de decisão, como a Assembleia da República.
Redes sociais têm papel preponderante no contacto com a política
O estudo da Universidade Católica mostra também de que as redes sociais já são o meio mais utilizado pelos jovens para o contacto com a política, surgindo ligeiramente acima da televisão, o que encerra em si mesmo oportunidades, mas também perigos, alertam os especialistas.

Raquel Matos chama a atenção para o perigo da desinformação, recomendando que se organizem atividades para que os jovens fiquem mais conscientes dessa realidade e adotem uma “postura mais crítica”.
Também Rui Oliveira refere o problema das fake news, defendendo que é preciso “encontrar novos mecanismos para apurar veracidade da informação” divulgada nessas plataformas.
Ainda assim, o presidente da CNJ admite que há também oportunidades nas redes sociais, a nível político. “Permitem uma interação muito maior do que a televisão. O sentimento de cooperação é fundamental”, realça.
Por outro lado, convém notar que, de acordo com o estudo, a falta de conhecimentos é a dimensão que mais veda a participação política dos jovens: “84,1% dos jovens dizem que, quando não participam formalmente, é por falta de conhecimentos”.
E ara colmatar essa lacuna, “65,4% dos jovens consideram relevante apostar em iniciativas comunitárias e populares. Os jovens valorizam também mecanismos formais de educação política (por exemplo, a utilização da disciplina educação para a cidadania ou o uso de parlamento lúdico para crianças)”, é explicado.

De resto, perante este dados, o CNJ vai agora promover um diálogo para refletir sobre o futuro dos jovens portugueses, sendo que o estudo agora divulgado já deixa uma série de recomendações: investir em medidas e ferramentas de democracia participativa; Reconfigurar conjuntamente com os jovens os canais de participação política; Criar uma disciplina de Administração Pública no ensino secundário; Criar programas formativos sobre os poderes e as instituições democráticas; Apostar em programas de integração à vida partidária e divulgar formas de adesão aos partidos políticos; Promover atividades partidárias abertas à comunidade sobre temas de interesse atual; Organizar atividades de sensibilização para o tema da desinformação; E preparar precocemente os jovens a partir da política local.
Este estudo integra o “Projeto Politicamente Desperto – mais informação, melhor participação” financiado e englobado no Programa Cidadãos Ativ@s, que é gerido em Portugal pela Fundação Calouste Gulbenkian, em parceria com a Fundação Bissaya Barreto.