Os últimos três meses do ano deverão ser sinónimos de uma nova desaceleração da economia nacional, mas os apoios preparados pelo Governo para as famílias portuguesas podem ajudar a atenuar, em parte, essa trajetória. A previsão é do Fórum para a Competitividade e consta da nota de conjuntura relativa a novembro, que foi divulgada esta terça-feira.
No terceiro trimestre, o Produto Interno Bruto (PIB) português cresceu 4,9%, em termos homólogos, isto é, menos 2,5 pontos percentuais (p.p.) do que a variação registada nos três meses anteriores. A explicar esse abrandamento estiveram, segundo o Instituto Nacional de Estatística (INE), tanto a procura interna, como a procura externa.
Já esta terça-feira, o Fórum para a Competitividade realça que, entre julho e setembro, houve uma aceleração do consumo privado “um pouco surpreendente”, que sugere que “a taxa de poupança está em queda”. Tal não é, contudo, sustentável, alertam os especialistas.
Por outro lado, no que diz respeito ao último trimestre de 2022, a nota conhecida esta tarde indica que deverá haver um “efeito geral de desaceleração” da economia nacional, o que poderá ser, ainda assim, “contrariado em parte pelo pacote de ajuda às famílias”.
Em setembro o Governo anunciou um conjunto de apoios, face à persistente inflação, nomeadamente uma ajuda aos rendimentos de 125 euros e um suplemento de meia pensão. “O pacote terá distribuído cerca de 730 milhões de euros aos trabalhadores e e cerca de mil milhões aos pensionistas”, frisa, neste âmbito, o Fórum para a Competitividade.
Mas acrescenta que, tratando-se o suplemento dirigido pensionistas não de um apoio extra, mas de um adiantamento do aumento das pensões de 2023, é possível que parte do valor transferido em outubro tenha sido poupada.
Esta foi uma das medidas mais polémicas dos últimos tempos: para assegurar a sustentabilidade da Segurança Social, o Governo deu um cheque aos pensionistas em outubro, limitando-lhes, em contrapartida, os aumentos que teriam em janeiro por efeito da inflação. Várias forças políticas tentaram reverter a situação (que deverá condicionar as pensões nos próximos anos), mas não atingiram o sucesso.
Já de olhos em 2023, os especialistas do Fórum para a Competitividade avisam que é provável “uma nova queda dos salários reais, com a subida dos salários nominais a não conseguir acompanhar a subida dos preços”. Tal deverá contribuir para uma “grande moderação do consumo privado, que tem mostrado um dinamismo surpreendente e pouco sustentável”, explicam.
Mais, as perspectivas para o investimento, sublinham, “só podem ser negativas, dada a evolução esperada da procura, da subida das taxas de juro e dos diferenciais de crédito”. E as exportações vão continuar “muito condicionadas pelo enquadramento externo debilitado” e pelo facto de a recuperação do turismo estar concluída.
“Em resumo, o ano de 2023 está rodeado de uma elevada incerteza, que tanto se pode traduzir numa recessão na economia portuguesa como num crescimento muito modesto”, remata o Fórum para a Competitividade, pouco otimista quanto ao próximo ano, o que fica em linha com as demais entidades que fazem previsões.