Em qualquer análise que se faça sobre a pandemia, é impossível negar que – mais de um ano após o primeiro grande confinamento – as consequências económicas e sociais são elevadas.

Era impossível evitar que um choque colossal, como este, não tivesse efeitos na sociedade e no tecido económico. Contudo, devemos sublinhar o papel das políticas públicas colocadas em marcha para, de forma robusta, impedir um impacto superior ao observado. Para termos uma ordem da grandeza destas respostas, só em apoios sociais fruto da pandemia Covid-19 foram atribuídos mais de 3,4 mil milhões de euros que abrangeram cerca de 2,8 milhões de pessoas.

São números impressionantes do ponto de vista estatístico e orçamental. Obviamente que existem muitas histórias e tragédias pessoais atrás destes números.

Muitos trabalhadores e empresários a passar por dificuldades e com receio do dia de amanhã. E isso é natural. Este é, desta forma, um território fértil para o surgimento de populismos e soluções fáceis. Nesse sentido, compete ao Estado tornar robustos os apoios e impedir que as desigualdades sejam crescentes, combatendo, dessa forma, esse discurso.

Os recursos são, naturalmente, escassos e devem ser aplicados nos setores que deles mais necessitam. Dessa forma, destaco o programa de apoio ao emprego, com recursos de cerca de dois mil milhões de euros (onde o programa de “lay-off simplificado” foi uma medida muito forte) que permitiram abranger um milhão de trabalhadores e 127 mil empresas. Estas medidas permitiram que em Portugal o emprego tivesse sido resiliente a esta crise, com uma taxa de desemprego de 6,8%, comparativamente a uma média europeia de 8,1%.

Paralelamente a estas medidas de apoios sociais, temos os apoios à economia. Além dos empréstimos com garantia mútua concedidos para garantir a capitalização das empresas, encontrámos medidas como o Apoiar, com um orçamento de 900 milhões de euros, que já injetou 700 milhões de euros, a fundo perdido, na economia.

O Apoiar Rendas é outro programa muito significativo, permitindo apoios até 50% deste importante custo fixo para empresas, onde a faturação reduziu mais de 25%.

Importa, com base neste esforço, que possamos implementar medidas que visem combater as desigualdades, nomeadamente a pobreza. Mesmo com ganhos consecutivos antes da pandemia, o risco de pobreza atingia 16,2% dos residentes em Portugal, sendo que muitos deles trabalham (60% dos com mais de 18 anos), o que não pode deixar de ser um dado preocupante. Estes dados baseiam-se no estudo da Fundação Francisco Manuel dos Santos, “A Pobreza em Portugal – Trajectos e Quotidianos”, apresentado esta semana.

Naturalmente que a pandemia veio trazer novas interrogações sobre a pobreza no nosso país. O combate à pobreza, com particular incidência nas crianças, é uma obrigação de todos. Os efeitos multiplicadores são claros e é nossa responsabilidade evitar que as crianças, provenientes de agregados pobres, sejam também pobres. É uma questão de decência social.