Este início de ano não tem sido fácil. Por um lado, temos as tensões políticas, agora com a novidade de um cenário de potencial invasão da Ucrânia pela Rússia, que joga sobre a passividade alemã devido à dependência deste país do gás russo (mais de 50%; não é por acaso que esta crise se passa no Inverno).

Os EUA deram instruções às famílias e parte do pessoal diplomático in situ para deixarem o País. Mas também marcante é a queda das bolsas este janeiro, particularmente da americana; na Europa é menor, vai nos 2%.

Provocada em primeira linha pelo endurecimento da política monetária, a queda das cotações em Wall Street é expressiva – a do S&P 500 é de mais de 7,5% desde o início do mês. Segue-se à subida dos rendimentos dos títulos americanos da dívida pública, gerado pela expetativa de subida das taxas de juro.

Em consequência, os investidores têm estado a substituir nas suas carteiras ações de empresas por títulos, e nas ações aquelas que têm perspetivas de maior rendimento, mas com maior risco, por ações com rendimentos a crescerem mais lentamente e de forma mais segura. Por exemplo, a queda tem sido mais pronunciada nas empresas tecnológicas do que nas conservadoras – o Nasdaq caiu 7% só na semana passada, 15% desde o recorde de 19 de novembro.

Mudam assim os heróis da finança: Cathie Woods perde imagem face a Warren Buffet, o fundo que gere está a perder 24% (-43% incluindo 2021) contra ganhos de 2% do Berkshire Hathaway (+34%).

Ao mesmo tempo, as criptomoedas tem tido uma evolução críptica: a bitcoin cai de perto de 70 mil dólares para cerca de 35 mil, 25% desde o início do mês, sem mesmo assim desanimar o Presidente de São Salvador (que se autointitula PDG do País), que lhe deu curso legal e que aproveitou para comprar mais 15 milhões de dólares dela.

O que se está a passar nos EUA vai marcar a geração nova, que começou muito cedo a apostar na bolsa, “democratizada” pela Robinhood e similares e por contas criadas para jovens, para comprar ações, numa altura em que em cada dia se batiam recordes: o RH Top 100 Fund, o índice das 100 preferidas pelos clientes da Robinhood, valorizou mais de 100% em 2020.

Mas a combinação de inexperiência e o FOMO da psicologia de massas (Fear Of Missing Out, à moda dos nossos macacos de imitação) está a pôr as perdas já acima dos 15%, segundo algumas estimativas.

Esperemos que as coisas fiquem por aqui, na Ucrânia como na queda das bolsas. Mas há riscos, e necessidade de prudência. É que o sol nasce todos os dias, mas pode estar de chuva.

Para os novatos que compraram ações e bitcoins, é uma maneira cara de aprender o que é aversão ao risco, mas perde-se também o que essa experiência podia ter de bom, como conhecimento de funcionamento dos mercados e (boa) aplicação de poupanças.

Conta Mark Twain que o gato que se sentou no bico do fogão e se queimou nunca mais voltou a fazê-lo, mesmo quando o bico estava frio.