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Aproximação entre Turquia e Israel resvala no sector energético e na Palestina

O ministro dos Negócios Estrangeiros turco está em visita a Israel, mas Ancara queria estender a aproximação à área das energias, movimento que Telavive decidiu bloquear. Mal chegou a Israel, o ministro partiu para a Cisjordânia, o que Telavive não pode considerar ‘boas maneiras’.
24 Maio 2022, 16h20

O ministro dos Negócios Estrangeiros da Turquia, Mevlut Cavusoglu, chegou esta terça-feira a Israel para uma visita considerada fundamental para a normalização das relações entre os dois países – que nunca tiveram uma evolução linear desde 1948. Mas a preparação da visita já resultou num primeiro fracasso: Cavusoglu queria ser acompanhado pelo ministro turco da Energia, Fatih Donmez, o que Israel considerou inapropriado. Mais longe fica assim a possibilidade de uma parceria no segmento do gás natural, que Ancara tanto deseja – especialmente desde que os Estados Unidos sinalizaram que vão deixar de apoiar o gasoduto para a Europa (através de Chipre e Grécia).

Segundo avança a imprensa judaica, a Turquia não é clara sobre o apoio que presta (ou não) ao Hamas, que comanda a sociedade enclausurada na Faixa de Gaza palestiniana, pelo que Israel ainda não está pronto para restaurar laços diplomáticos completos e certamente não está ansioso por conversar sobre energia.

O presidente turco Recep Erdogan colocou a sua perspetiva em evidência durante a visita do presidente israelita Isaac Herzog a Ancara (em março passado), expressando a disposição do seu governo para cooperar com Israel em projetos de energia e segurança energética. Mas o governo israelita não está ainda pronto para dar esse passo.

A Turquia importa 45% das suas necessidades de gás de fontes russas e está ansiosa para diversificar os fornecimentos, que poderia vir precisamente, pelo menos em parte, de Israel – que tem sido muito bem-sucedido nas pesquizas que tem feito no lado oriental do Mediterrâneo.

Neste quadro, Israel quer discutir primeiro o relacionamento da Turquia com o Hamas, a troca de embaixadores e outros assuntos que considera fatores de normalização das relações entre ambos, antes de partir para o sector energético que, desde o início da guerra na Ucrânia, é crítico em termos de segurança mas também de captação de recursos externos.

Os dois países retiraram reciprocamente os seus embaixadores em 2010, depois de as forças israelitas terem atacado uma embarcação turca que transportava ajuda humanitária com destino a Gaza, tentando romper um bloqueio imposto por Israel. Na altura, as forças israelitas afirmaram que os ocupantes do barco ofereceram resistência, o que se saldou na morte de dez ativistas turcos.

Após a chegada a Israel, o ministro turco partiu para Ramallah, na Cisjordânia, para se encontrar com o presidente da Autoridade Palestina, Mahmoud Abbas, e o seu ministro dos Negócios Estrangeiros, Riad al-Maliki. A imprensa israelita não deixou de assinalar que a visita do ministro turco começou pelo lado palestiniano e recordou que Erdogan tem todo o interesse em, internamente, manter a imagem de um firme suporte à Palestina.

Só para complicar, pelo meio ainda há a tensão entre a Turquia e a Grécia: Erdogan acusou a semana passada o primeiro-ministro grego Kyriakos Mitsotakis de fazer lobby contra a venda de caças norte-americanos F-16 a Ancara e, na ótica de Ancara, isso é imperdoável. Ora, Israel e a Grécia têm trabalhado uma rota de aproximação que, mesmo no segmento das energias, pode ser muito mais benéfica para Israel. É que a União Europeia, de que a Grécia faz parte, precisa tanto como a Turquia de diversificar fornecedores (ou talvez mesmo mais) e a União Europeia surge aos olhos de Israel como um cliente muito mais promissor.

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