Os bombardeios aéreos pesados da coligação liderada pela Arábia Saudita atacaram a capital do Iémen na noite de ontem, atingindo bairros densamente povoados de Sanaa em aparente vingança pelo assassinato do ex-presidente do país Ali Abdullah Saleh às mãos dos rebeldes xiitas, segundo avança a agência Associated Press (AP).
O corpo de Ali Abdullah Saleh, que pode ser visto em vídeos difundidos pelos rebeldes, foi levado para o hospital militar da capital, também controlado pelos rebeldes, mas não ficou claro se foi permitido à família recuperar o cadáver, segundo relata a mesma fonte.
As imagens da morte de Saleh fazem lembrar o descalabro que foi a morte de Moamar Kaddafi, na Líbia em 2011, numa altura em que o antigo presidente do país era perseguido por aqueles que pouco antes o tinham apoiado de forma praticamente incondicional. É que os rebeldes xiitas, conhecidos como Houthis, chegaram a ser apoiantes de Saleh – antes de uma reviravolta que mudou tudo, das várias que ali se verificaram e que fazem com que a comunidade internacional esteja cada vez mais afastada do processo.
Do Cairo, e ainda segundo a AP, o presidente da Liga Árabe, Ahmed Aboul-Gheit, denunciou aquilo que apelidou de “assassinato de Saleh às mãos de “milícias criminosas” e advertiu que a situação no Iêmen poderia piorar, aprofundando a crise humanitária que assola a região. Aboul-Gheit afirmou – por via de um porta-voz oficial – que a comunidade internacional deveria considerar o Houthis como “uma organização terrorista”. “Todos os meios devem ser usados para que o povo iemenita se liberte deste pesadelo”, acrescentou.
O desaparecimento de Saleh acaba com a esperança do governo do Iémen internacionalmente reconhecido e apoiado pela Arábia Saudita de que o divórcio político entre Saleh e os rebeldes, apoiados pelo Irão, podia enfraquecê-los e dar ao executivo e à coligação a oportunidade de acabar com a guerra.
A agudizar do conflito no Iémen dá-se poucos dias depois de ter sido encontrada, aparentemente, uma solução para o problema da demissão e posterior recondução do primeiro-ministro libanês. Ambos os conflitos inscrevem-se na luta cada vez mais declarada entre a Arábia Saudita e o Irão, que está a deixar o Médio Oriente a ferro e fogo.
Para um número crescente de observadores, uma guerra aberta entre os dois países não é uma hipótese a excluir a prazo, se a comunidade internacional não conseguir convencer Riade e Teerão e voltarem atrás nas suas posições cada vez mais antagónicas. A intromissão dos Estados Unidos na questão, nomeadamente desde que Donald Trump assumiu a presidência do país, não tem, segundo afirmam muitos comentadores, ajudado a solucionar o conflito.
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