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Arquitetando comunidade

A prática ativista significa que a arquitetura deixa o escritório para envolver-se ativamente com a comunidade na necessidade de desenho nessa comunidade, em vez de esperar passivamente que os clientes venham ter com eles.
4 Junho 2022, 09h36

A Nova Bauhaus Europeia, uma iniciativa da Comissão Europeia, desafia a cultura e a criatividade na definição de soluções urgentes para atingir os objetivos do Pacto Ecológico Europeu: “ser o primeiro continente com um impacto neutro no clima”.

Para tal, propõe o NEB LAB, uma estrutura baseada em projetos apresentados por “equipas auto-organizadas para alcançar mudanças tangíveis num local ou contexto específico”. Um espaço ideal de reflexão-ação da ativação coletiva, que privilegia a cocriação, a prototipagem e a testagem de ferramentas necessárias às mudanças na visão partilhada global com a indústria, a política, o poder local, a academia e os cidadãos.

A Arte assume o papel de instrumento não só de representação, mas de meio para construir comunidade, recuperando o espírito colaborativo da Escola Bauhaus –tradução livre “construir uma casa” – que funcionou entre 1919 e 1933 na Alemanha. A Arquitetura e todas as profissões ligadas ao planeamento, urbanismo, desenho e construção são chamadas a contribuir com projetos para a construção do comum, onde a dimensão espacial é central no habitar o local em conjunto.

Os projetos de base comunitária têm, assim, um papel destacado no discurso operativo. Uma prática reconhecida como forma eficaz de criação do ambiente construído, permitindo que comunidades e indivíduos melhorem, com os arquitetos e outros especialistas, os seus espaços da vida quotidiana a diferentes escalas: a cidade, o bairro, a rua e a casa.

É evidente que desde a crise económica e financeira de 2008, a profissão de arquiteto está em transformação, sendo simultaneamente proativa e reativa. Por um lado, procura papéis com maior relevância na sociedade e, por outro, respostas aos desafios globais causados pelas alterações climáticas ou conflitos armados.

O fundador da Design Crops, Bryan Bell, apresenta este cenário como uma oportunidade para expandir a criatividade a um maior número de pessoas. O desenho de soluções conjuntas pode desempenhar um papel significativo na definição de novas estratégias de ação para chegar às camadas populacionais marginais e excluídas. No caso do arquiteto Markus Miessen, autor do livro “The Nightmare of Participation”,  este realça o papel da prática orientada para conflitos, no sentido de  propagar modelos alternativos no desenho de práticas espaciais.

Já para o arquiteto português Santiago Batista,  trata-se de implementar um urbanismo open source “para constituição de comunidade, através de consensos provisórios e partilha em tempo real, onde os arquitetos são agora especialistas intermediários, necessários entre os cidadãos e o poder, entre a administração e os habitantes”.

Uma prática mais operativa e ativista é, também, a ocasião de chegar ao grande público, isto é a  99%  da população que não tem acesso aos arquitetos. Os desejos e necessidades dos habitantes, assim como a sua perceção do território, tornam-se  essenciais no imaginar o futuro e compreender o papel do arquiteto na comunidade. A prática ativista significa que a arquitetura deixa o escritório para envolver-se ativamente com a comunidade na necessidade de desenho nessa comunidade, em vez de esperar passivamente que os clientes venham ter com eles.

Uma visão expandida da prática da arquitetura, que pode desempenhar um papel chave na definição de novas formas das diversas necessidades do futuro coletivo e ecológico, fazendo, também, com que o cidadão comum abandone uma atitude passiva.

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