As incoerências de António Costa em Lisboa

Na passada semana, o vice-presidente da Câmara Municipal de Lisboa divulgou alguns “resultados provisórios” das contas camarárias. Apresentando um “powerpoint”  vistoso aos jornalistas, sem escrutínio, sem contraditório, com dados parciais e ainda não oficiais, a câmara prestou-se a um exercício inédito de procurar antecipar em dois ou três meses a apresentação de contas que deve […]

Na passada semana, o vice-presidente da Câmara Municipal de Lisboa divulgou alguns “resultados provisórios” das contas camarárias.

Apresentando um “powerpoint”  vistoso aos jornalistas, sem escrutínio, sem contraditório, com dados parciais e ainda não oficiais, a câmara prestou-se a um exercício inédito de procurar antecipar em dois ou três meses a apresentação de contas que deve ocorrer de forma completa e, em primeiro lugar, aos órgãos do município (aliás, não deixa de ser curiosa esta tentativa de antecipação depois do atraso na apresentação do orçamento para 2015).

Esta apresentação precipitada dos “dados provisórios” e parciais não passou de um exercício de campanha para que o Dr. António Costa pudesse fazer uma intervenção, no fim-de-semana, dando como exemplo do que ele pretende para o país o que fez em Lisboa. E este é um dos problemas: a instrumentalização da câmara de Lisboa para a campanha do partido socialista e que o Dr. António Costa utiliza como palco.

Mas vamos então às contradições sobre a afirmação das contas saudáveis da Câmara Municipal de Lisboa.

Há qualquer coisa que não bate certo quando se afirma que as contas da Câmara estão saudáveis e, ao mesmo tempo, se impõe um brutal aumento de taxas e tarifas aos lisboetas (como é o caso da tarifa de saneamento e de resíduos), se criam novas taxas para os lisboetas (como é o caso da nova taxa de proteção civil) e se procuram obter mais receitas com o turismo (como é o caso da taxa de chegada ao aeroporto). A tudo isto, soma-se ainda a previsão do aumento da receita com impostos, nomeadamente o IMI.

Por outro lado, é estranho que a Câmara se orgulhe de tanta poupança na despesa quando, ao mesmo tempo, se agravam problemas básicos no funcionamento da cidade que a Câmara não consegue controlar. Todos reconhecem os problemas das inundações cada vez mais frequentes, do lixo que se acumula nas ruas sem ser recolhido ou dos buracos que se multiplicam nas ruas de Lisboa.

Se o partido socialista pretende dar como exemplo do que pretende fazer no país, o que faz em Lisboa, então vamos a isso. Mas esse exercício deve incluir os aumentos de taxas e tarifas, as inundações, o lixo, os buracos e outras coisas mais. Ainda assim, mesmo pretendendo utilizar a Câmara como exemplo, não a pode instrumentalizar em função da sua campanha eleitoral.

E há algo que não se esquece tão depressa: da última vez que o PS, no Governo, afirmou que a situação financeira do país estava controlada, a realidade era que estávamos à beira da bancarrota. E nessa ocasião também se apresentavam uns “powerpoint” vistosos.

António Prôa
Deputado

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