Os últimos quatro anos não foram aproveitados para progredir. Aliás, regredimos, embora nos queiram convencer do contrário com alguns números.

Aprendemos em física as questões do plano inclinado (leis de Newton) e constatamos que quanto mais baixo estamos mais difícil será recuperar. E os números dos últimos anos, com os quais nos queriam fazer sentir que estaríamos a recuperar consistentemente, vem agora revelar (os dados são do Banco de Portugal) que é esperado um crescimento económico da ordem dos 3,9% em 2021.

A OCDE é das organizações mais pessimistas e indica um crescimento modesto de 1,7%. Ora, se perdemos cerca de 8,5% da riqueza (dados do Governo) em 2020, será fácil concluir que a recuperação desta pandemia vai levar largos anos. As forças políticas internas movimentam-se numa azáfama pouco vista sobre pseudo-soluções, muito embora estejam sem soluções. Não tarda nada lavarão as mãos como Pilatos e endossarão a recessão para o perigo do populismo – a verdade é que as forças dos últimos 30 anos não tiveram soluções de crescimento.

A pressão sobre o reeleito Presidente da República é evidente. Este diz que estamos num período pandémico e que o seu papel é criar condições de governabilidade. Mas, e há sempre um ‘mas’, não será possível manter durante muitos mais meses esta paz podre. Aliás, ela só existe numa sociedade que está adormecida pelo elevado endividamento das famílias e pela panaceia das moratórias, as mesmas que muitos defendem que é necessário manter. Só falta dizerem que estas moratórias do crédito hipotecário e crédito ao consumo não poderão ter uma maturidade pré-determinada.

E regresso à crise económica e social que muitos apregoam. Não será despiciendo acrescentar que uma nova troika poderá estar aí ao virar da esquina. E talvez se alargue à Europa do Sul e quiçá ainda tenhamos a assistência financeira dos chineses, à semelhança do que estão a fazer em países do continente africano, o que seria uma vergonha para o “velho” continente. Por enquanto são meras divagações, mas a economia degradou-se, as empresas estão sem liquidez e as famílias vivem das moratórias dos grandes créditos.

E, para agravar a situação, estamos a descobrir aquilo que alguns portugueses têm de pior em termos morais. Já se escreveram milhares de artigos sobre a displicência, a vergonha e a podridão de alguns dirigentes autárquicos, gestores, políticos e membros da sociedade que, alegando falhas nas orientações dos técnicos de saúde e munidos da capacidade de escolher pessoas para a vacina da imunização, “pescam” familiares e amigos. Estamos no momento do “salve-se quem puder”!

Na história encontramos episódios semelhantes nas lutas liberais do século XIX e nas longínquas lutas com Castela nos séculos XII e XIII. Mas estamos em pleno século XXI e aquilo que constatamos é que as forças da ordem fazem um apelo aos mais baixos sentimentos de um povo – a denúncia. O “salve-se quem puder” é combatido com um apelo generalizado à “bufaria”. Isto é absolutamente degradante.

E a somar a tudo isto, temos um nível de corrupção imparável. Não pelos valores envolvidos (algo que desconhecemos), mas pela facilidade com que se pretende exportar este produto local para a Europa civilizada. O caso do procurador é apenas a causa de um ambiente que se instalou. Manipular a justiça começou no momento em que o poder judicial deixou de aplicar regras por si e passou a deixar-se escrutinar por redes sociais implacáveis e pelo “justicialismo” popular.