Os últimos dias trouxeram-me um conjunto de emoções que me paralisou, num primeiro momento, e me enfureceu, desde então.

Quando vejo imagens de milhares de mães a fugirem de uma guerra injustificada, com crianças no regaço, numa tristeza vívida, movidas pelo dever de proteção das suas crias, tanto quanto aterrorizadas por terem deixado para trás os maridos, os pais, os filhos maiores de idade ou os tios que se juntavam em sua casa para os almoços longos de domingo, fico aterrada numa incredulidade que só os relatos de repórteres no terreno travam e me devolvem à realidade que – eu como tanta gente – não quero aceitar.

Esta é uma realidade bélica que a minha geração nunca teve de acompanhar de tão perto e de forma tão altamente mediatizada.

Tive necessidade de voltar a “A Mãe”, de Máximo Gorki, que nas suas últimas linhas nos descreve uma Rússia tão grotescamente cruel com as(os) ‘dissidentes’ do regime como agora com o povo ucraniano.

É desta crueldade fria, intensa, irracional, amoral, tirana, injustificada que é feita esta invasão da Ucrânia – um país independente e democrático – pela Rússia, um país autocrata liderado pela representação contemporânea do Narciso terrorista que, no seu mundo enviesado, decidiu que quer um novo império russo (de regresso à Idade Média, portanto) e a restauração da não tão antiga União Soviética (o que leva comunistas, aqui tão perto, em vias de extinção, a estarem do lado errado desta história medonha).

Este Vladimir Narciso é, assim, o Leviatã dos nossos tempos. Intocável, aparente e assustadoramente.

Quantas mães russas quererão a paz e não enviar filhos, maridos e outros familiares para as linhas da morte decididas por Vladimir Narciso? Quantas mães ucranianas se uniriam às mães russas na defesa da paz, poupando os seus e os deles? Acredito que todas, mesmo aquelas que nem filhos(as) tenham.

Do inenarrável cenário que se nos põe à frente, o que mais me assusta – porque está nas mãos de um sociopata – é a ideia de um ataque nuclear e o fim da vida conforme a conheço na Europa desde o final da década de 1970 (quando nasci).

Estaremos, portanto, concordo com Timothy Snyder, num dos períodos mais desafiantes – e assustadores, acrescento – da história da Europa desde a Segunda Guerra Mundial. Por isso apetece tanto gritar por todos os cantos que se faça greve à guerra, especialmente aos servidores de Vladimir Narciso.

São estes servidores da morte que ficarão com o sangue nas mãos, que deixarão filhos órfãos e mães enlutadas até ao fim dos seus dias. Para que mais mãe alguma tenha de se ver obrigada a explicar às suas crianças que não mais poderão ver o pai ou outros familiares empurrados para a guerra. Porque, na guerra, recordo Mia Couto, “as crianças e as mulheres: essas são quem carrega mais desgraça”.

Dias tristes, estes, na nossa Europa.

A poucos dias de assinalarmos mais um Dia Internacional das Mulheres dedico este texto a todas as mães – mesmo às que não têm filhos – que lutam pela paz e pela sobrevivência na Ucrânia, na Rússia e na restante Europa.