O conhecido economista britânico, membro da Casa do Lordes, Robert Skidelski, em muito recente artigo, fala-nos do falhanço das políticas económicas e da dificuldade da ciência económica encontrar soluções para a já longa estagnação da economia mundial e muito em especial da economia europeia. Diz Skidelski que os políticos “Acionam as habituais (e as não usuais) alavancas e nada acontece. O quantitative easing era suposto trazer a inflação de volta aos objetivos. Não o fez. A contração fiscal era suposta restaurar a confiança. Não o fez”.

As duas grandes políticas usadas nos EUA e na Europa, uma visando fazer subir a inflação e retirar as economias do perigo de deflação e outra, materializada na austeridade, procurando insuflar confiança nos mercados e dessa forma estimular o investimento, na verdade não funcionaram como previa a escola monetarista dominante, embora, de certa forma, este falhanço viesse ao encontro das teses de vários economistas keynesianos.

De facto, os níveis da inflação continuam extremamente baixos, tendo a forte injeção de liquidez nos mercados levada a cabo pelos bancos centrais sido essencialmente canalizada para os mercados financeiros, as principais bolsas estão em máximos de vários anos, e pouco ou nada contribuiu para aumentar a procura de bens e serviços que dessa forma artificialmente estimulada se traduzisse em inflação.

Na zona euro, os dados de novembro de 2016 colocam a inflação em 0,6%, muito abaixo da meta dos 2%. Vários países registam considerável deflação, caso da Bulgária (-0,8%) e de Chipre (-0,8%). Assim, urge reconhecer que a política seguida não atingiu os objetivos previstos e planeados.

Quanto à contração fiscal, assente numa austeridade cega, na redução do investimento público, no encerramento de serviços públicos e na diminuição de gastos estatais na educação, na saúde, na defesa, na investigação, na cultura e em muitos outros campos não levou a maior confiança dos mercados nem a um acréscimo do investimento. Muito pelo contrário, este tem-se reduzido.

Naturalmente que as compras/gastos do Estado são vendas de empresas públicas e privadas. Sem esse mercado e com as famílias a apertar o cinto, qual o propósito do investimento? O mercado externo? Mas este é essencialmente composto por países que seguem a mesma receita e em que o mercado não se expande. E como investir se a banca, em virtude do acumular de crédito malparado não consegue capitalizar-se, condição primeira para que possa expandir o crédito às empresas e às famílias? Concluímos então que as duas principais políticas tiveram um efeito fortemente contraproducente face às metas desejadas e proclamadas.

Os EUA estão no processo de alterar a sua política económica, promovendo uma re-industrialização, protegendo a sua economia, aumentando as taxas de juro, revitalizando o mercado interno com um programa massivo de investimento em renovação de infraestruturas e em armamento. Estarão no caminho certo? Não o sabemos ainda, mas uma coisa é certa – com o seu tradicional pragmatismo perceberam já os erros cometidos e apressam-se a implementar outra solução. Por cá, na Europa e em Portugal, persistimos em políticas que, longe de nos salvarem, continuam a empobrecer-nos.