Escrevi aqui aquando da primeira Web Summit: “Merece registo e destaque especial bem positivo e prometedor a Web Summit que teve lugar, há bem pouco tempo, em Lisboa. A animação que trouxe à cidade, a informalidade com que os participantes se apresentavam nas conferências, criou todo um ambiente diferente e descontraído, de corte radical com as formalidades de congressos a que é normal assistir-se”.

A realização da Web Summit trouxe de facto uma ruptura de comportamentos e uma maior atracção, sobretudo do lado da juventude, pelas novas tecnologias. Mas há também quem a olhe de outra forma. Quem critique o montante do investimento português, quem afirme que não passa de uma “feira de vaidades” dos políticos, quem, por todas as formas, denigra ou deforme os seus objectivos.

A Web Summit é, de facto, uma feira de negócios da área tecnológica, onde há espaço para contactos e negócios, troca de mensagens, mais profundas ou mais ligeiras, e muito lazer.

Certamente, neste foco de “feira de vaidades”, a flecha implícita vai direitinha para o próprio Presidente da República, sem dúvida, uma das grandes figuras de palco desta última, através da sua mensagem muito positiva, a de usar as tecnologias na conquista da paz.

Temos pela frente até 2028, mais dez edições de Web Summit, que todos esperamos com melhorias e eventualmente fins alargados. Interessante recordar que estes dez anos da Web Summit se encerram, com uma coincidência feliz, a celebração dos 100 anos do rato Mickey.

Os próximos dez anos vão ser dinâmicos. Irão começar a consolidar-se, a nível mundial, profundas e radicais transformações tecnológicas originadas pela robótica ou, pelo menos, por alguns tipos de robots, em determinados países.

Há necessidades sociais e vitais prementes. Como responder aos cuidados a um cada vez maior número de idosos? Espera-se que o desenvolvimento da robótica possa trazer grande parte da resposta. Por isso, é preciso identificar e produzir os robots que a essas funções se adaptam com as melhores performances.

Quem vai cuidar, por exemplo, dos cinco milhões de idosos japoneses, quando já se está perante a população mais idosa do mundo e, ao mesmo tempo, manter a economia a funcionar em equilíbrio? Como equilibrar uma sociedade como a japonesa?!

E, a breve prazo, não será apenas o Japão a deparar-se com esta situação. O nosso país, dentro de alguns anos, será um dos mais envelhecidos do mundo. Se esta situação já coloca entre nós problemas de fundo, como o das reformas e o da vida activa, vai ainda espoletar outros como os cuidados aos idosos.

As grandes empresas e/os grandes grupos económicos, sobretudo nos países mais evoluídos, com o Japão na dianteira, já estão no terreno a tentar encontrar soluções. Investimentos avultados não faltam e os progressos parecem animadores.

A Google está a desenvolver um processo para os carros autónomos (sem condutor). Já muito se escreveu sobre as vantagens deste automóvel em termos de segurança das pessoas, da enorme baixa de sinistralidade, da gestão de tráfego e, apesar da grande problemática do emprego, não tenho dúvidas que o carro irá ser uma realidade. Vem, aí, então, o carro autónomo, apesar das complicações em termos de legislação, sem dúvida, um dos maiores imbróglios a resolver.

A velha economia industrial está moribunda ou em vias de desaparecimento. Os velhos serviços vão por esse mesmo caminho. Pensemos por exemplo na banca… um serviço que tem vindo a mudar tanto, que já nem damos por isso. Mas que ainda vai mudar muito mais! Ou no comércio, que tem tudo ou quase para mudar.

Mas pensemos em outras áreas como a genética, onde jovens com menos de 20 anos desenvolvem interfaces cérebro-máquina, como se soube, através de uma jovem oradora convidada para a última Web Summit, de que ela própria é protagonista.

Mas há um problema grave ainda sem resposta. O que fazer a este exército de “inactivos” do futuro? E outras novas tecnologias vêm ainda a caminho…

A Web Summit não é tudo, ataca um nicho de negócio e parece vir a incorporar uma nova componente na área do investimento. Mas o seu alvo é, sobretudo, as empresas (startups). E as pessoas? Como criar as pessoas que irão “criar” as startups ou outras? “Este mundo” parece ainda em aberto. Penso que não está encontrada a resposta e as nossas escolas a todos os níveis não a têm.

Aliás, há um aspecto que me causa alguma surpresa: a pouca ligação ou até ausência da Web Summit do Ministério da Ciência e Ensino Superior. A este propósito interrogava-me no último artigo aqui: “Será que se constata um desajuste real, de facto, entre os conhecimentos do professor e o aluno já nascido em plena sociedade tecnológica em movimento? Ou serão os conteúdos que não se ajustam ao tempo presente? Ou serão as duas coisas em simultâneo?”

Penso que é isto e muito mais.

Muitos jovens entendem que estudar é uma pura perda de tempo. E só lhes apetece estudar com “as mãos na massa”. O que quero dizer com isto? Só lhes apetece estudar quando reconhecem que essa procura de estudo lhes adiciona saber ao que estão a fazer ou pensam vir a fazer.

São duas concepções antagónicas de ver o estudo. Estudar não é “acumular” coisas em abstracto para esquecer passado algum tempo (a maioria do nosso ensino) sem utilidade no trabalho que se vai/está ou virá a fazer. É exactamente o seu contrário: ir à procura de conhecimento que ajude a desenvolver o que a vida nos está/vai proporcionar.

Começa-se a trabalhar “tarde”. Os jovens gostariam de ter acesso a um trabalho (flexível) mais cedo e aí viam o que era preciso estudar para progredir ou “saltar” de emprego. A mentalidade “do sempre foi assim” não está preparada para isto. Só uma elite de privilegiados o consegue.

Um apontamento a acabar esta opinião.

Poderia não ser grave a fase em que o país se encontra, se se pressentisse que algo se move para abarcar esta problemática, no seu conjunto e nas suas interacções. Acho que estamos, porém, numa grave situação, exactamente porque nada se move. E aqui são as instituições públicas que recuaram para a idade da pedra.

O autor escreve de acordo com a antiga ortografia.