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“Atentado ambiental” no Tejo revolta pescadores, autarcas e ambientalistas em Abrantes

Situação é visível desde quarta-feira no Tejo, onde o manto de espuma quase não deixa ver a água. “É um atentado ambiental que a todos preocupa e indigna”, denunciam os autarcas.
  • Rafael Marchante/Reuters
25 Janeiro 2018, 15h13

Pescadores, ambientalistas e autarcas afirmaram hoje em Abrantes estarem “preocupados” e “indignados” com o manto de espuma que cobre as águas do Tejo, naquele troço do rio, tendo o vereador do Ambiente da autarquia criticado o “atentado ambiental”.

Em declarações à Lusa, Manuel Jorge Valamatos disse hoje que a “poluição visual” conferida pelo manto de espuma branca e pelas águas negras que correm junto ao açude de Abrantes, permite “constatar mais um episódio degradante de poluição no Tejo”, com “problemas evidentes ao nível da qualidade e quantidade”.

Segundo o autarca daquele município ribeirinho do distrito de Santarém, a situação que é visível desde quarta-feira no Tejo, onde o manto de espuma quase não deixa ver a água, “é um atentado ambiental que a todos preocupa e indigna”, tendo defendido que “importa tomar medidas urgentes para que estes cenários não se voltem a repetir”.

Na quarta-feira, um manto de espuma branca com cerca de meio metro cobriu o rio Tejo na zona de Abrantes, junto à queda de água do açude insuflável, num cenário que o ambientalista Arlindo Marques , do Movimento pelo Tejo – proTEJO -, classificou como “dantesco” e que hoje ainda permanecia à vista de todos.

“Ando nisto há mais de três anos [a registar e denunciar episódios de poluição no rio] e este é um cenário dantesco e nunca visto”, disse na quarta-feira o dirigente do proTEJO à Lusa, sublinhando que a “água castanha” e o “manto de espuma da morte”, que ainda hoje cobria uma extensa parte das águas, constituía “um dos piores cenários” jamais registados naquele troço do rio.

“Parece o cenário de um filme, tanta espuma que mal deixa ver a água”, disse o ambientalista conhecido na região Centro como o Guardião do Tejo, devido às horas que passa junto às margens do rio, de Vila Nova da Barquinha a Mação, a registar em fotos e vídeos os casos de poluição que encontra e que partilha nas redes sociais desde 2015.

“Este é o quarto dia em que isto está a acontecer, e ontem [quarta-feira] ainda estava pior, mas é só a jusante de Vila Velha de Rodão que isto acontece”, observou hoje, acrescentando que “a origem da poluição não está em Espanha”, mas nas fábricas instaladas naquela localidade do distrito de Castelo Branco.

“Ontem [quarta-feira] fui com os pescadores a montante de Vila Velha de Rodão e não há lá poluição, a água está transparente”, assegurou, tendo questionado o porquê de as entidades competentes não descobrirem a origem da poluição.

“Como é que não descobrem quem está a fazer isto?”, perguntou, tendo lembrado que o proTEJO já realizou diversas manifestações de protesto, queixas na Comissão Europeia e participações ao Ministério Público e que “nada se resolve”.

“Os pescadores estão a passar fome, estamos na época da lampreia e o peixe não chega aqui, e apelo ao Presidente da República e ao Primeiro Ministro para que ponham cobro a isto porque, por este caminho, qualquer dia não há vida no rio”, afirmou.

Revoltada com a poluição no rio Tejo e com os prejuízos financeiros estavam também os pescadores, tendo Maria dos Anjos Paiva, 61 anos, afirmado à Lusa que pesca em Abrantes desde pequena e que não encontra “nada para pescar, nem muge, nem tainha nem lampreias”.

“Desde há dois anos para cá, isto é uma miséria autêntica. Isto é a morte dos pescadores todos por este rio abaixo, é a morte do Tejo, e ninguém nos ajuda”, criticou.

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