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Ativos sob gestão caíram 10% em 2022 globalmente, diz BCG

As margens, mercados privados e personalização são os temas que vão liderar a agenda da indústria nos próximos anos, defende a BCG.
23 Maio 2023, 18h53

Os ativos sob gestão caíram 10% em 2022 globalmente, vincando a necessidade da indústria se transformar, segundo o “Global Asset Management 2023: The Tide Has Turned”, realizado pela Boston Consulting Group (BCG).

O estudo conclui ainda que as gestoras de ativos mantiverem o rumo atual, o crescimento anual dos seus lucros será metade da média do setor nos últimos anos (5% versus 10%).

As margens, mercados privados e personalização são os temas que vão liderar a agenda da indústria nos próximos anos, defende a BCG.

“Durante grande parte das últimas duas décadas, o crescimento das receitas das gestoras de ativos foi estimulado pelas políticas dos bancos centrais” diz a consultora que lembra que no entanto “o aumento das taxas de juro fez com que os valores das ações e obrigações derrapassem no ano passado e, consequentemente, os ativos sob gestão, globalmente, caíssem 10% para 98 biliões de dólares – perto dos níveis de 2020”.

“É a segunda maior queda num único ano desde 2005, segundo o Global Asset Management 2023: The Tide Has Turned, realizado pela Boston Consulting Group (BCG)”, diz a consultora.

“Ademais, o aumento de ativos sob gestão, excluindo o impacto das variações de preço, caiu abaixo de 3% pela primeira vez desde 2018, atingindo 1,6% dos ativos globais sob gestão no início de 2022, isto é, 1,7 biliões de dólares”, acrescenta o estudo.

“A indústria de gestão de ativos atingiu um ponto de inflexão, exigindo que os líderes repensem a maneira como as suas organizações operam se quiserem voltar ao crescimento de lucro dos anos anteriores”, diz no comunicado Chris McIntyre, Managing Director e Partner da BCG e co-autor do relatório.

“Os mercados estão repletos de incertezas macroeconómicas e, paralelamente, a tecnologia está a transformar rapidamente a forma como as empresas de serviços financeiros servem os seus clientes”, acrescenta.

De acordo com o relatório, a percentagem de novos ativos em ETFs (exchange-traded fund, ou fundo de índice) e outros produtos passivos negociados em bolsa nos Estados Unidos triplicou para 90% de 2010 a 2022, comparativamente ao período de 2000 a 2009.

“Na Ásia e na Europa, os fundos passivos detêm apenas 21% e 20% dos ativos de fundos mútuos (mutual fund) e exchange-traded funds (ETF), respetivamente, indicando que a gestão ativa parece ainda ser um refúgio seguro – pelo menos por enquanto”, refere a BCG.

Na China e em outros mercados asiáticos, as gestoras de ativos têm conseguido retornos acima do mercado, superando as vantagens de custo encontradas nos produtos indexados. Adicionalmente ao aumento da procura do cliente, possíveis mudanças regulatórias podem também tornar o clima mais favorável para a gestão passiva, acrescenta a análise.

Taxas de gestão de ativos estão a cair

Nos últimos 10 a 15 anos, o desempenho extraordinário do mercado mais do que compensou a compressão das comissões cobradas – mas esses dias acabaram, destaca a BCG.

“O custo de comissões está a ser cada vez mais usado como um diferenciador não apenas para produtos passivos, mas também dentro do espaço superlotado de produtos ativos semelhantes entre si, resultando numa compressão de margens”, refere o comunicado que adianta ainda que “as comissões médias caíram mais de 15% desde 2010, uma queda que apagaria 55 mil milhões de dólares em receitas considerando os ativos sob gestão em 2022”.

A BCG diz ainda que “embora o setor tenha criado uma abundância de novos produtos para se diferenciar num contexto competitivo, tal não se traduz necessariamente numa inovação significativa”.

Os investidores estão a aderir cada vez mais a produtos com histórico e track record estabelecido, sendo que  “75% dos ativos sob gestão global em fundos mútuos e ETF’s estão em produtos com pelo menos dez anos. Menos de 40% de todos os produtos lançados há dez anos ainda são oferecidos, face a 60% em 2010”.

O setor tem de se transformar para crescer no novo cenário macroeconómico, defende o estudo.

A BCG prevê que, dadas as pressões existentes e as expectativas do mercado, se as gestoras de ativos mantiverem o rumo atual, o crescimento anual dos lucros será aproximadamente metade da média do setor nos últimos anos (5% versus 10%). Para manter o crescimento anterior, precisarão de cortar 20% das suas despesas gerais e mudar o seu mix de receita para gerar pelo menos 30% a partir de produtos com maior margem.

Para sobreviver e prosperar nos próximos anos, a consultora descreve três temas devem estar no topo da agenda de gestão de ativos. O primeiro é a rentabilidade em que a BCG defende a mudança de paradigma relativamente às margens do setor, implementando várias iniciativas para otimizar custos, em vez de apenas cortar despesas.

O segundo tema são os produtos alternativos e a consultora diz que as gestoras devem alocar parte do capital em investimentos alternativos, os quais têm melhores margens.

O mercado de alternativos representa apenas 20% dos ativos sob gestão, mas foi responsável por 50% das receitas do setor com 190 mil milhões de dólares. “Consequentemente, espera-se um forte crescimento de 7% por ano nesta classe de ativos nos próximos cinco anos”, prevê a BCG.

As empresas que pretendem entrar neste mercado podem fazê-lo através de quatro caminhos ou decidem “criar as capacidades in-house; ou adquirir uma(s) empresa(s) no setor, integrando-a(s), mas mantendo uma visão ‘boutique’; ou comprar uma empresa alternativa e operá-la de uma forma 100% independentemente ou estabelecer uma parceria”.

Por fim o terceiro tema é a personalização. “As gestoras devem procurar tecnologias que apostam na personalização, dado que pode levar a um aumento na conversão de venda de cerca de 20% em relação às abordagens tradicionais”, defende a BCG.

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