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“Atuem”. Eugénio Rosa pede a Banco de Portugal e Governo para intervir no Montepio

O economista acusa o Ministério do Trabalho de ter em seu poder um projeto de Estatutos há quase um ano e ainda não se ter pronunciado, permitindo o agravamento da situação na Associação Mutualista Montepio Geral.
10 Maio 2020, 10h56

O economista Eugénio Rosa exorta os associados do Montepio e a opinião pública a mobilizar-se para obrigar o regulador e o Governo a atuar na defesa do grupo Montepio e dos 3.000 milhões de euros de poupanças que os associados têm nele.  “Ambos – Banco de Portugal e Ministério do Trabalho, e o próprio governo, são responsáveis pelo que acontecer no grupo Montepio”, acusa o também associado da instituição num longo trabalho de análise às contas da instituição efetuado a partir dos indicadores que figuram no relatório e contas da instituição divulgado esta semana.

Segundo a análise de Eugénio Rosa, o ativo líquido do Montepio passou de 21.145 milhões de euros em dezembro de 2015 para 17.740 milhões de euros em dezembro de 2019. Trata-se de uma redução de 3.405 milhões de euros.

“Em quatro anos, o ativo líquido do Banco Montepio reduziu-se em 16,1%”, salienta, adiantando: “Um aspeto ainda mais preocupante é a redução, todos os anos, do negócio bancário, traduzida na redução, também todos os anos, da sua carteira de crédito”. Com efeito, a carteira de crédito passou de 14.662 milhões de euros, em 2015, para 11.465 milhões, em 2019, o que representa uma diminuição de 3.198 milhões de euros. Só em 2019, segundo Eugénio Rosa, a redução foi de 526 milhões.

“O novo crédito concedido não está a ser suficiente para compensar o crédito liquidado e o crédito amortizado, o que é dramático em termos de futuro para o Banco Montepio”, afirma Eugénio Rosa, para, de seguida, alertar. “A continuar, o banco perderá valor garantindo cada vez menos as poupanças dos associados que estão investidos nele – cerca de 2.500 milhões milhões – e não gerará lucros que possam ser transferidos para Associação Mutualista para remunerar as poupanças dos associados investidas no banco”.

Eugénio Rosa lembra que há mais de cinco anos que a Associação Mutualista não recebe qualquer rendimento do banco por essas poupanças, com “consequências graves não só para a Associação Mutualista, mas também para os associados”.

Também a rubrica depósitos caiu: de 12.969 milhões, em 2015, para 12.525 milhões, em 2019.  No período de quatro anos, os recursos de clientes e outros empréstimos diminuíram 444 milhões de euros.

Outro dado importante, para o qual Eugénio Rosa chama a atenção é o encurtamento da diminuição entre o ativo e passivo. Entre 2017 e 2019, os capitais próprios do Banco Montepio reduziram-se de 1.730 milhões de euros para apenas 1.452 milhões. Ou seja,  “desapareceram” 278 milhões, devido a imparidades e menos-valias que foram contabilizadas diretamente na conta de capital indo diretamente para “reservas” que, no fim de 2019, eram negativas atingindo o enorme montante de -920 milhões.

Esta redução dos capitais próprios do Banco Montepio levanta, segundo o economista, um problema com consequências graves à Associação Mutualista: “O Banco Montepio está valorizado nas contas da Associação Mutualista por 1.870 milhões, no entanto, de acordo com as contas do próprio banco, o seu valor é apenas de 1.452 milhões, ou seja, está sobreavaliado nas contas da Associação Mutualista em 418 milhões”.

Eugénio Rosa diz ainda que na última assembleia geral de associados levantou este “problema grave” e que o presidente “procurou responder alegando que ele tinha como base um plano de negócios do banco que permitiria recuperar esse valor”. Um argumento, acrescenta, também utilizado pela  KPMG “para dar cobertura à gestão de Tomás Correia”. Mas, conclui, “nem a Associação Mutualista nem o Banco Montepio cumpriram alguma vez o plano de negócios e é de prever que aconteça o mesmo no futuro. Se a Associação Mutualista tiver de contabilizar nas suas contas o valor real do Banco Montepio terá certamente cerca de 400 milhões de euros de prejuízos”.

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