Recentemente, tenho sido abordado por algumas pessoas que me perguntam sobre como devem fazer quanto à necessidade de trocar de viatura, num momento de rápida evolução da tecnologia.

Trata-se de uma preocupação legítima, atendendo às imposições regulamentares decorrentes das metas fixadas pela União Europeia e respetivos Estados-membros no que respeita à redução de emissões de carbono.

Ainda antes do início da pandemia, o valor máximo admitido fixado para as emissões de viaturas novas foi de 95 gramas por quilómetro, meta a atingir a partir de 2020, apesar de haver um ajustamento gradual no cálculo, permitindo suavizar a adaptação.

Os fabricantes de automóveis rapidamente fizeram as contas e concluíram que tal só será possível com uma determinante aposta na eletrificação de novas viaturas, de modo a compensar a fabricação de modelos que mantêm motores a combustão.

Esta realidade veio colocar alguma incerteza quanto à valorização dos veículos aquando da decisão, por parte dos consumidores, no momento de trocar de viatura.

Isto porque é esperado que as marcas continuem a seguir uma estratégia mais agressiva de evolução tecnológica para soluções que lhes permitam atingir as metas fixadas, e cujo rigor no cumprimento por parte das autoridades se vai intensificar, com fortes penalizações para os fabricantes que ultrapassem os valores fixados. Assim, é natural que surjam dúvidas na hora de escolher um novo carro.

Algures, num futuro mais próximo, é natural que os veículos movidos a diesel ou gasolina venham a perder valor atendendo à mudança tecnológica desenhada. Por outro lado, as restrições que as autoridades nacionais (e mesmo regionais ou locais) possam vir a adotar no que respeita à circulação de viaturas a combustão, poderão precipitar a necessidade de mudança para viaturas eletrificadas.

Neste quadro, as escolhas por parte dos consumidores passam a ponderar estes fatores. E isso leva inevitavelmente a alterações profundas, quer no mercado de viaturas novas, quer no de viaturas usadas.

No primeiro, importa ponderar o tempo previsto para a posse da viatura, que tende a encurtar, o que pode suscitar algum interesse pela adoção de soluções de aluguer operacional (renting), uma vez que, à partida, tende a defender o valor da viatura no fim do contrato contribuindo para a redução de incerteza.

No segundo, nota-se ainda alguma escassez de oferta de viaturas eletrificadas (híbridas plug-in ou totalmente elétricas), sendo natural que a chegada destas viaturas ao mercado de segunda mão as possa valorizar num primeiro momento, atendendo ao aumento da procura. Mas, é esperado que venham progressivamente a perder valor atendendo às melhores soluções de mercado que vão surgindo, sobretudo quanto à autonomia e durabilidade das baterias.

Fazendo parte do mesmo “ecossistema”, às instituições financeiras de crédito especializado competirá ajustar a sua oferta às alterações de mercado automóvel, acompanhando as condições de financiamento com o comportamento esperado de valorização da viatura enquanto garantia subjacente.