O jornalista e escritor espanhol Eric Frattini, autor do ‘Manipulação da Verdade’, considera que o papel da comunicação social tradicional é cada vez menor na sociedade atual, ultrapassado pela imediatez dos meios digitais. Dá como exemplo o golpe de Estado na Turquia, que diz não ter existido.
“O problema é que os meios tradicionais, a rádio, a imprensa ou a televisão, têm um papel cada vez menos importante nas sociedades democráticas”, afirma Eric Frattini ao Jornal Económico. Exemplo disso será o golpe de Estado na Turquia, no ano passado, que Frattini considera não ter existido, mas sim uma operação de falsa bandeira, ou seja, uma ação desenvolvida para que a perceção indique uma diferente autoria, com o intuito de manipulação da opinião pública.
“Se tivéssemos seguido os meios de comunicação [tradicionais] nos dias do golpe de Estado na Turquia, dávamos conta de que, enquanto os meios tradicionais davam uma informação muito atrasada, no Twitter, no Instagram ou nos blogues turcos contrários a Erdogan a informação era dada segundo a segundo, com uma transmissão perfeita do que estava a acontecer”, conta. “Hoje, quase todos [os bloguers turcos contrários a Erdogan] estão presos ou no exílio”, sublinha.
Por isso, Frattini dá preferência a utilização dos meios digitais e de outros meios, como livros, num quadro, claro, da apresentação da sua última obra em Portugal.
‘Manipulação da Verdade’, editado pela Bertrand, conta a história de operações de falsa bandeira. No total, são descritos 24 casos, do afundamento do couraçado norte-americano Maine, em 1898, que levou décadas a solucionar, mas que serviu para justificar a oposição a Espanha e a independência de Cuba, passando pelo incêndio do Reichstag, em 1933, orquestrado por Adolf Hitler, até à tentativa de golpe de Estado na Turquia, entendida por Frattini como uma criação do presidente Erdogan afastar definitivamente a oposição de Gulen.
Eric Frattini foi correspondente no Médio Oriente, é autor de mais de uma vintena de ensaios e livros de investigação.
Dos 24 casos descritos em ‘A Manipulação da Verdade’, apenas um se refere ao século XIX, enquanto os restantes respeitam a acontecimentos passados no século XX – 14 – e no século XXI – seis.
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