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Avançar com cautela, esta pode ser a “tempestade perfeita”

Com efeito, o aumento substancial do salário mínimo provoca uma aproximação aos salários médios das empresas e um efeito de pressão ascendente nos salários em geral de forma diametral na estrutura das empresas, que é salutar.
6 Abril 2022, 07h15

Em qualquer momento no ano de 2019 se nos dissessem que, no ano de 2022 estaríamos ainda “a braços” com uma pandemia de um vírus mortal que já dura há dois anos, acabados de entrar numa Guerra aberta na Europa com ameaças veladas de Guerra Nuclear e de uma Terceira Guerra Mundial, a tentar gerir uma crise na cadeia de abastecimentos globais e com um aumento generalizado dos combustíveis que empurrou, quer a gasolina, quer o gasóleo, acima da barreira psicológica dos dois euros (cujos efeitos se irão estender e afetar diametralmente todos os setores da economia), acho que nenhum de nós acreditaria…

Mas, quer queiramos quer não, esta é a realidade com que os cidadãos portugueses e as empresas se deparam atualmente. Em paralelo, e bem, foram feitos esforços no sentido de aumentar o salário mínimo nacional que em 2019 se situava nos 600 euros e em 2022 foi fixado em 705 euros (e 723 euros na Região Autónoma da Madeira), que vão no sentido de se criar alguma convergência com o nível salarial que se pratica nos restantes países europeus, onde os respetivos salários mínimos nacionais se situam confortavelmente acima da barreira dos 1000 euros na maior parte dos casos.

Ora, não é expectável que a conjugação de todos estes fatores se possa fazer nas empresas portuguesas de uma assentada só, razão pela qual é importante dar tempo e espaço para que as empresas portuguesas possam acomodar esta nova realidade em todas as suas vertentes.

Com efeito, o aumento substancial do salário mínimo provoca uma aproximação aos salários médios das empresas e um efeito de pressão ascendente nos salários em geral de forma diametral na estrutura das empresas, que é salutar.

Não obstante, este efeito tem um “reverso da medalha”, uma vez que, ao estarmos no meio de um clima económico extremo (motivado pelos efeitos da pandemia, da guerra e do aumento dos combustíveis), se as empresas não tiverem a capacidade para produzir aumentos significativos nos salários médios, podemos vir a registar um crescente clima de insatisfação e de um aumento da conflitualidade laboral, nomeadamente pelo recurso liberalizado e irresponsável a greves na forma de paralisação total e outras formas de luta sindical.

O propósito deste artigo é chamar a atenção de todos em geral, para o facto de que no atual ambiente de incerteza económica, é muito difícil às empresas conseguir fazer planos a médio prazo, sendo importante, nesta fase, recorrer ao bom senso e responsabilidade dos trabalhadores em geral e das organizações sindicais representativas dos mesmos, para dar tempo e espaço a que as empresas possam “digerir” toda esta situação e este clima de incerteza, dar tempo para que as circunstâncias políticas e sociais a nível nacional e a nível mundial se possam consolidar e estabilizar, de modo a podermos avançar com cautela, mas com segurança, nesta que é efetivamente uma “tempestade económica perfeita”.

Neste ambiente de incerteza em que se vive, aplica-se na íntegra aquele provérbio africano que diz “se quer ir rápido, vá sozinho. Se quer ir longe, vamos juntos”.

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