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Banca brasileira é muito lucrativa mas tem os juros mais altos do mundo

A banca brasileira segue a somar lucros recordes, apesar da forte crise económica. Tem dos juros mais altos do mundo em parte devido à baixa concorrência no setor. O país é dominado por grandes bancos (Banco do Brasil, Bradesco, Caixa Económica Federal, Itaú Unibanco, BNDES e Santander).
5 Outubro 2018, 16h30

Segundo o artigo do The Economist, essa concentração ficou ainda maior nos três últimos anos, após o HSBC ser comprado pelo Bradesco e o Citibank vender suas operações de retalho ao Itaú. Mas as Fintechs são a luz ao fundo do túnel.

Nem os bancos escapam à ebulição política que atravessa o Brasil. O tema dos juros altos (o Brasil tem das taxas de crédito mais altas do mundo) já foi chamado para a campanha eleitoral. Já há candidatos a prometer baixar administrativamente os juros do crédito.

Segundo a Agência Brasil, os bancos brasileiros apontam como um dos principais riscos à estabilidade financeira o quadro de incertezas diante das eleições presidenciais. O resultado faz parte do Relatório de Estabilidade Financeira, publicação semestral do Banco Central, que foi divulgado na passada quarta-feira.

Os bancos inquiridos declararam que o resultado das eleições, o programa do candidato eleito e as suas condições de governabilidade são fatores de riscos para a economia.

Paulo Souza, diretor de fiscalização do Banco Central, disse que há desconfiança do setor, escreve a Agência Brasil.

“Toda vez que tem um cenário de eleição, o próprio sistema financeiro e tomadores [de crédito] param um pouco para saber qual vai ser o desdobramento. O risco político que eu percebo, claramente, que [os bancos] estão preocupados é em relação a quem vem a ser eleito, qual a reforma no aspecto fiscal, que vai ter impacto na taxa estrutural de juros”, disse.

“O sistema financeiro está capitalizado, tem liquidez. Mesmo com a redução da taxa de juros, aumentou a rentabilidade. Para  os banco conseguirem manter esse patamar de rentabilidade, a tendência natural é transferir essa liquidez para a parte de operação de crédito”, diz Paulo Souza.

Brasil tem o crédito mais caro do mundo

No final do ano passado, o Copom (Comité de Política Monetária) do Banco Central do Brasil decidiu cortar a taxa básica de juros (Selic) em 0,5 ponto percentual, de 7,5% para 7% ao ano. Esse foi o 10º corte seguido da Selic, que vem a cair desde outubro de 2017. Mas em abril já estava no mínimo histórico de 6,5%. Ainda assim os juros chegam aos clientes a níveis exorbitantes.

A Selic é a taxa básica da economia e serve de referência para outras taxas de juros (financiamentos) e para remunerar investimentos. Mas não representa exatamente os juros cobrados aos consumidores, que são muito maiores.

O Brasil tem dos juros mais altos do mundo nas várias modalidades de crédito. O custo médio dos empréstimos nos bancos é de 33% anuais para particulares. A taxa média do crédito à habitação é de 11% (era em fevereiro) para a compra de carro é de 22,5% e crédito pessoal pode chegar aos 126%.

Há no entanto uma luz ao fundo do túnel para os brasileiros. Segundo a “The Economist”, as  fintechs (empresas financeiras de tecnologia) têm ajudado a tornar o setor bancário um pouco mais competitivo ao oferecer serviços mais baratos do que os grandes bancos.

A esquerda já chamou o tema dos juros altos do crédito no Brasil para a campanha eleitorial. O  candidato do PT (Partido Trabalhista) a presidente, Fernando Haddad, afirmou nesta quarta-feira que os bancos brasileiros fazem cartel e que vão ter que ser “enquadrados” para baixar os juros, quando foi questionado sobre como vai dialogar com o mercado financeiro caso seja eleito. “Os bancos vão ter que ser enquadrados. Os juros que estão cobrando hoje não existem em nenhum lugar do mundo. Só para se ter uma ideia, os juros que os bancos estão cobrando no Brasil é quatro vezes maior do que a média internacional”, afirmou o candidato de esquerda.

“O Banco Central tem que regular os juros que os bancos cobram do consumidor”, disse o candidato do PT que vai mesmo mais longe ao prometer que “vamos introduzir agora regras para que o Banco Central seja obrigado também, não só a regular a taxa de juros que o governo paga para os banqueiros, na dívida pública, mas os juros que o consumidor e empresário pagam para o sistema bancário, sobretudo o sistema privado […] Bancos vão ter que aceitar essa nova regulação. É uma regulação contra o cartel que os bancos formaram no Brasil”. O candidato disse, ainda, que se for eleito, vai negociar com os bancos a redução dos juros para que o “empreendedor possa abrir o seu negócio”, para que “o consumidor possa pedir um crédito, e para que os devedores paguem suas dívidas com juros menores”.

Os cinco maiores bancos do Brasil lucraram 77,4 mil milhões de reais (17,15 mil milhões de euros) em 2017

A primeira característica da banca brasileira é a baixa concorrência no setor. O país é dominado por cinco grandes bancos (Banco do Brasil, Bradesco, Caixa Económica Federal, Itaú Unibanco e Santander). Segundo o artigo do The Economist, essa concentração ficou ainda maior nos três últimos anos, após o HSBC ser comprado pelo Bradesco e o Citibank vender suas operações de retalho ao Itaú.

O Itaú Unibanco tem 1.448 mil milhões de reais em ativos (321 mil milhões de euros); o Banco do Brasil tem 1.441 mil milhões de reais em ativos (319 mil milhões de euros); o Bradesco tem 1.080 mil milhões de reais (239,4 mil milhões de euros); a Caixa Económica Federal tem 1.978 mil milhões de reais de ativos (239 mil milhões de euros); o BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Económico e Social) que tem 877,2 mil milhões de reais (194,5 mil milhões de euros); o Santander Brasil que tem de ativos 605,2 mil milhões de reais (134,2 mil milhões de euros); o BTG Pactual que tem 215,4 mil milhões de reais (47,75 mil milhões de euros); o HSBC Brasil tem 215,4 mil milhões de reais de ativos (47,75 mil milhões de euros); o Banco Safra que tem 145 mil milhões de reais (32,14 mil milhões de euros); e o Banco Votorantim que tem em ativos 105,5 mil milhões de reais (23,38 mil milhões de euros), isto segundo dados difundidos por publicações brasileiras.

Os cinco maiores bancos do Brasil atingiram lucros recordes de 77,4 mil milhões de reais (17,15 mil milhões de euros) em 2017, o que traduz uma subida de 33,5% face ao ano anterior. Isto apesar do cenário económico adverso enfrentado pelo país em 2017.

No primeiro semestre deste ano, os bancos totalizaram 47,1 mil milhões de reais (10,4 mil milhões de euros) em lucro líquido e pagaram aos seus acionistas 26 mil milhões de reais (5,8 mil milhões de euros) em dividendos. O lucro médio por mês foi de 7,85 mil milhões de reais (1,74 mil milhões de euros) em 2018, uma subida de 12% em relação ao mesmo período do ano passado. Os dados fazem parte do Relatório de Estabilidade Financeira (REF), divulgado nesta quarta-feira pelo Banco Central e citados pelo site UOL.

 

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