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Banca questiona regulação das fintechs

Prestes a entrar em vigor a diretiva europeia de serviços de pagamento, Fórum Banca discutiu regras aplicadas às inovações electrónicas.
  • Cristina Bernardo
30 Novembro 2017, 12h50

Os desafios da banca face às inovações tecnológicas e a necessidade de regular a atividade das fintechs foram alvo de reflexão por parte dos banqueiros presentes no Fórum Banca 2017.

O presidente da CGD, Paulo Macedo, antecipou o que poderá acontecer à banca num contexto de convívio com as fintechs. Estas empresas têm menos custos porque não têm uma base de capital nem rácios de capital para cumprir, e como tal podem operar com um custo muito reduzido. Isso, disse Macedo,“ é um desafio para a banca”.

Mas, realçou, “as fintechs fogem dos depósitos como o diabo da cruz, porque para darem depósito tem de estar sujeitos às regras regulatórias e a requisitos de capital, logo os depósitos ficam para a banca”. “Neste momento as Fintechs não têm capital, não têm rácios e para já também não têm clientes”, disse ironicamente.

O presidente do BCP, Nuno Amado, questionado sobre a supervisão e a regulação num panorama cada vez mais digital, afirmou “precisamos de tempo, de absorver o que o existe. Há uma mudança contínua e, na minha opinião, tem de haver uma estabilização”, afirmou. “Se o digital é inevitável e faz todo o sentido esta regulação, precisamos de tranquilidade e não estou a vê-la em 2018”.

Em janeiro vai entrar em vigor a diretiva europeia de serviços de pagamento conhecida como PSD2, que visa aumentar a transparência nas instituições de pagamento. Para isso, os bancos terão de permitir o acesso dos serviços de pagamento a Third Party Providers (TPPs). “Estas mudanças aceleradas são um desafio para nós”, explicou o CEO do Millennium BCP. “As regras têm de ser as mesmas, sob pena de estar a criar banking lateral que pode criar riscos que não conhecemos”.

Já o presidente do Novo Banco, António Ramalho, antecipa que a instituição financeira terá capacidade de adaptar-se à mudança tecnológica, já que essa sempre foi uma prioridade do banco nos últimos três anos.

“O banco tem de renascer focado no negócio. Foi esse o mind set durante estes três anos em que o Novo Banco foi um bridge bank. Nunca quisemos perder a inovação como preocupação permanente. Achámos sempre que a chave do sucesso do novo banco seria a fidelidade dos clientes”, frisou.

Ramalho realçou que o Novo Banco já foi “escrutinado e autopsiado” e que, ainda assim, foi um “caso único” de um banco de transição que conseguiu sair “stand alone” desse processo. Em relação ao comportamento dos clientes, António Ramalho sublinha a mudança histórica. “Os millennials vêm pela primeira vez transmitir uma alteração profunda que me dizem como é que eu opero ou faço a compra ou qual a operação mais inteligente. E isto é uma novidade para a cultura bancária”.

Sobre a revolução digital, o CEO do Novo Banco diz ainda que “as fintech podem ser parceiras neste projeto mas têm de percorrer algum caminho”. “Eu tenho 210 mil clientes que só operam mobile e isto dá a ideia da movimentação quase que oculta que se faz nos hábitos portugueses”.

Sobre o tema das fintechs e de como convivem os bancos com estes novos players do mercado, o presidente do Montepio, José Félix Morgado, assumiu que é preciso mais regulação, pois “a banca precisa de ter as mesmas condições de negócio que têm alguns dos potenciais concorrentes. Há que regular e ver o que queremos da banca no futuro, estimulando mas dando as mesmas condições de concorrência”. O gestor salientou ainda que “há um custo em termos de segurança, do ponto de vista do clientes e do ponto de vista das transações. As fintechs não conseguem transmitir segurança”. Há portanto aí um desafio do próprio regulador que é o de acompanhar a evolução tecnológica. Portanto esse é o tema do futuro em termos de ajustamento do mercado”.

Licínio Pina, presidente do Crédito Agrícola, salientou que a nova geração de clientes bancários exige tecnologia e não está disposta a pagar comissões, sejam elas quais forem. Ainda assim, acrescentou, “todos precisam de uma conta bancária para fazer as suas transações, mesmo que para tal recorram essencialmente a uma plataforma digital”.

Sobre a regulamentação, afirmou que existem, de facto, novos desafios que levam a muitos ajustes, fazendo com que o supervisor , bem como cada um dos bancos, tenham de se preparar e ter respostas à altura. Licínio Pina deixou ainda uma nota às fintechs: “São muito bem vindas ao setor” mas “só poderão existir se os bancos existirem”.

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