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Banco de Angola sem informação sobre 500 milhões transferidos para empresa-fantasma

Em causa está a transferência fraudulenta para Londres, numa operação que tem no centro José Filomeno dos Santos, o filho mais velho do antigo Presidente angolano que deu o aval proposta internacional para garantir a concessão de créditos a Angola que poderiam chegar aos 30 mil milhões de dólares.
21 Março 2018, 13h33

O Banco Nacional de Angola (BNA) desconhece qualquer documento ou informação oficial que dá conta do processo de descongelamento dos 500 milhões de dólares (cerca de 407 milhões de euros) do Governo britânico para os cofres do Estado, revela nesta quarta-feira, 21 de março, o “Jornal de Angola”. Em causa está operação desencadeou uma investigação por causa de suspeitas de fraude contra o Estado angolano e que envolve  o filho mais velho do antigo Presidente angolano, José Eduardo dos Santos e uma empresa-fantasma que propôs a concessão de créditos até 30 mil milhões de dólares (cerca de 24 mil milhões de euros) contra a garantia de um desembolso de 500 milhões de dólares do BNA.

A revelação é de uma fonte oficial do BNA ao “Jornal de Angola”, que sublinhou que até terça-feira, 20 de março, a autoridade monetária em Angola “não teve acesso a qualquer comunicado de fonte segura sobre o descongelamento deste capital”.

Segundo o “Jornal de Angola”, a PGR do país esclareceu que o processo está em segredo de justiça, pelo que não está autorizada a fornecer informações que podem atrapalhar as investigações ao caso que já deu origem a um processo-crime.

A informação sobre o retorno do dinheiro foi veiculada por alguns órgãos de informação, nacionais e estrangeiros, dando conta de que a Agência Nacional Britânica contra o Crime, contactada pela “Reuters”, já devolveu os 500 milhões de dólares que tinham sido transferidos de forma irregular do BNA para o Banco Crédit Suisse de Londres. Esta operação desencadeou uma investigação por causa de suspeitas de fraude contra o Estado angolano.

Recentemente, o coordenador da Direcção Nacional de Investigação e Acção Penal, João Luís de Freitas Coelho, afirmou que o descongelamento dos 500 milhões de dólares e o seu retorno aos cofres do Estado angolano mobilizou esforços conjunto do Ministério das Finanças e do BNA junto do Governo e da banca inglesa.

A 27 de janeiro, o jornal “Expresso” deu também conta que um grupo de oficiais britânicos da Brigada Internacional Antifraude esteve no final daquele mês em Luanda para investigar os contornos e a legalidade de um caso que envolveu, em setembro, a transferência fraudulenta para Londres de 500 milhões de dólares através do BNA. O valor foi congelado depois de se ter apurado a falsificação da assinatura do presidente-executivo do Crédit Suisse e de terem sido detetadas irregularidades processuais.

 

Filho de José Eduardo dos Santos foi pivot de operação fraudulenta

Em causa está uma proposta de financiamento ao Estado angolano liderada por José Filomeno dos Santos, o filho mais velho do antigo Presidente, Zenú, coadjuvado por Jorge Pontes Sebastião, apontado como um testa de ferro do filho de José Eduardo dos Santos.

A referida transferência levou à demissão, a 27 de outubro passado, do então governador do BNA, Valter Filipe. A operação veio a revelar-se como uma burla ao Estado angolano, autorizada por José Eduardo dos Santos e que teve como pivô o seu filho e então presidente do Fundo Soberano de Angola, José Filomeno dos Santos.

Em consequência das investigações em curso, o ex-governador do BNA, Valter Filipe, foi constituído arguido e está impedido de sair do país depois de ter sido ouvido pela PGR por suposto envolvimento nesta transferência alegadamente ilícita de 500 milhões de dólares para uma conta no exterior do país. A suposta transferência terá sido realizada em setembro de 2017, um mês antes da sua demissão do cargo de governador do BNA para uma conta do banco Credit Suisse de Londres.

No mesmo processo estão arrolados outros funcionários do banco central e entidades públicas cujos nomes ainda não foram revelados.

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