“Banco de Fomento poderia operar no mercado indiretamente”

Por via de uma seguradora no âmbito do seu universo, o Banco de Fomento podia dar uma ajuda preciosa às empresas exportadoras, defende o presidente da Associação Têxtil e do Vestuário de Portugal em entrevista ao JE.

Com exportações de cerca de 6,14 mil milhões de euros em 2022 – mais de 70% do total da produção – o sector têxtil está no Top 3 das indústrias exportadoras nacionais. Mas, para Mário Jorge Machado, presidente da Associação Têxtil e do Vestuário de Portugal (ATP), os seguros às exportações são uma dificuldade: a falta de concorrência dita as suas leis.

O crédito às exportações é um mercado que funciona bem?
O mercado português é muito reduzido em termos de players. As empresas acabam por encontrar soluções muito parecidas entre eles e isso faz com que o mercado tenha dois problemas associados ao facto de a concorrência ser pouca. O primeiro tem a ver com as taxas que se pagam em termos de seguros – que depende do perfil de risco do cliente avaliado. E depois as taxas de cobertura e o crédito só são aliciantes para as empresas que têm resultados muito positivos. As situações com que as empresas se confrontam no seu dia-a-dia fazem com que as condições em determinado momento possam não ser as melhores.

Não há portanto uma resposta eficaz.
As seguradoras assumem uma postura muito defensiva, o que faz com que tenham de ser algumas empresas tenham de assumir todos os riscos. Tudo isto tem uma causa remota: haver poucas empresas seguradoras no mercado. Essa é a questão: tornar este mercado atrativo para que haja mais operadoras no mercado dos seguros.

Num quadro de grande da inflação e da guerra, que genericamente aumenta o risco de todos os mercados, não é uma boa altura para isso.
Há uma empresa francesa a operar no mercado que parece ter uma postura diferente – nomeadamente em situações em que empresas como a Cosec não dão resposta. Voltamos sempre à questão inicial: o mercado tem falta de operadores. É preciso eliminar algum tipo de barreiras que possa haver à entrada de novos operadores neste tipo de negócio.

Parece credível a entrada de uma instituição como o Banco de Fomento neste negócio?
Não o Banco de Fomento diretamente, mas nada impede que a instituição possa ter uma seguradora a operar nesse segmento. Todos os anos a Cosec pede uma reunião [com o sector têxtil] para perceber como está estruturalmente o sector. Para fazerem uma avaliação do risco para perspetivarem o ano.

Já ocorreu essa reunião este ano?
Costuma ser pelo mês de março, quando as empresas começam a apresentar contas. Mas claramente o Banco de Fomento podia vir a criar uma empresa seguradora. Depois há outra situação que tem a ver com o factoring – uma atividade bancária mas que também tem um seguro de crédito por trás: o banco adianta o dinheiro à empresa, antecipando-se ao pagamento dos clientes, mas tem também de haver uma seguradora que responda perante o banco. Mas aí já estamos a misturar seguro de crédito com empréstimos a curto prazo.

Todos estes problemas que elencou são eles próprios inibidores do aumento das exportações?
Sim. Há muitas empresas que decidem não avançar com determinados negócios porque não conseguirem obter seguro. Há negócios que deixam de se fazer por não haver uma seguradora a dar suporte a esse negócio. E isso é prejudicial para o desenvolvimento do sector, como é também de uma forma geral para as exportações portuguesas. É preciso mais concorrência.

Recomendadas

ACT fez 36 inspeções em quintas do Douro e levantou 19 contraordenações em 2022

A Autoridade para as Condições do Trabalho realizou 36 visitas inspetivas nas quintas do Douro, em 2022, e instaurou 19 processos de contraordenação, tendo sido identificados 410 trabalhadores, informou o Ministério do Trabalho em resposta ao PCP.

Costa: BCE agiu mal ao subir taxas de juro “doa a quem doer”

O primeiro-ministro criticou hoje a subida das taxas de juro por parte do Banco Central Europeu (BCE) e considerou que “é hoje mais importante do que nunca” o país continuar a reduzir a sua dívida.

JE Podcast: Ouça aqui as notícias mais importantes desta quarta-feira

Da economia à política, das empresas aos mercados, ouça aqui as principais notícias que marcam o dia informativo desta quarta-feira.
Comentários