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Banco de Portugal alerta para aumento da interligação entre soberano e banca, um risco para a estabilidade financeira

O reconhecimento atempado do risco de crédito reduziu a rendibilidade dos bancos, diz ainda o Relatório da Estabilidade Financeira anunciado pelo Banco de Portugal.
21 Junho 2021, 12h38

O Banco de Portugal divulgou o Relatório de Estabilidade Financeira (REF) com referência a junho de 2021. Nele reporta que a crise interrompeu o processo de ajustamento da economia portuguesa, e que “a magnitude e a persistência da crise, juntamente com a diluição no tempo e a redistribuição dos custos da pandemia entre os setores privado e público, levaram a um aumento da dívida, em particular nas administrações públicas e nos sectores de atividade mais afetados pela crise”.

No sector bancário, o reconhecimento atempado do risco de crédito reduziu a rendibilidade do sector. Os bancos, beneficiando igualmente de medidas adotadas, mantêm indicadores de liquidez e de solvabilidade resilientes, ao mesmo tempo que satisfazem as necessidades de financiamento da economia, diz o BdP.

As principais vulnerabilidades e riscos para a estabilidade financeira que decorrem deste enquadramento são o risco de uma correção nos mercados financeiros internacionais, que poderá ser amplificado pela elevada alavancagem, pela exposição a ativos de menor qualidade creditícia e pela baixa liquidez na carteira do sector financeiro não bancário na área do euro.

O Banco de Portugal, cuja apresentação do REF coube ao administrador Luís Laginha de Sousa, salientou que o fenómeno do ‘searching for yield‘ fez valorizar os mercados financeiros  e por isso o risco de correção é elevado.

“A retirada das medidas de apoio, numa situação de endividamento elevado e de atividade ainda deprimida em alguns setores, potencia a materialização do risco de crédito”, refere ainda o BdP.

Também o elevado endividamento das administrações públicas e o aumento das responsabilidades contingentes constituem uma vulnerabilidade da economia portuguesa. O aumento da interligação entre o risco soberano e a banca foi ainda apontada como risco para a estabilidade financeira.

A exposição dos bancos portugueses à dívida pública estabilizou nos 8%, reportou Laginha de Sousa, que salientou que o aumento da interligação entre o soberano e o sistema bancário foi ainda reforçada pelo aumento do crédito concedido com garantia pública.

A exposição dos bancos ao sector público, 16,2% do total do ativo, aumentou, mas a exposição a dívida pública portuguesa estabilizou.

Outro risco para a estabilidade financeira é a correção dos preços no mercado imobiliário residencial em Portugal, “que pode decorrer, inter alia, da potencial retração da procura de imóveis por não residentes, que surja associada a uma deterioração das condições de financiamento internacionais”.

No mercado imobiliário comercial, pode ocorrer uma queda adicional dos preços na sequência da ocorrida em 2020 para alguns segmentos (retalho e hotéis), avança o BdP.

As perspetivas de rendibilidade baixa no setor bancário e reforço da ligação ao sector público, através do reforço da exposição a dívida pública e da concessão de crédito com garantia pública, estão entre os riscos apontados.

A concorrência, aumento potencial do malparado (NPL), baixos juros estão na origem da baixa rentabilidade.

“Os bancos portugueses constituiram mais imparidades do que a média da área do euro”, diz o BdP.

“Avaliadas de forma integrada, as vulnerabilidades e riscos elencados evidenciam interdependências entre sectores económicos, que devem ser tidas em consideração na formulação de políticas promotoras da estabilidade financeira”, refere o supervisor.

Entre os mitigantes dos riscos está o aumento do rendimento das famílias, que foi destacado pelo Governador do BdP, Mário Centeno.

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