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Banco de Portugal revê crescimento em alta para 2,6% em 2017

O banco central reviu em alta ligeira a projecção de crescimento económico para este ano, face aos 2,5% estimados em outubro. A expansão da economia vai desacelerar nos anos seguintes, mas de forma mais branda do que prevista anteriormente.
15 Dezembro 2017, 13h00

A economia portuguesa vai prolongar a expansão nos próximos anos, a um ritmo superior à média das estimativas do crescimento potencial  e muito próximo do da zona euro, referiu o Banco de Portugal no Boletim Económico publicado esta sexta-feira.

O banco central sublinhou que reviu em alta os valores para o horizonte 2017-2019 face às projeções publicadas nos Boletins Económicos de junho e outubro. Este ano o Produto Interno Bruto (PIB) deverá crescer 2,6% (versus os 2,5% previstos em outubro). “Face ao exercício de Outubro, a revisão em alta reflete essencialmente a incorporação da estimativa rápida do PIB para o terceiro trimestre de 2017 e a informação de conjuntura recente, com uma evolução mais favorável do que a antecipada”, adiantou.

A desaceleração do crescimento prevista para os dois anos seguintes (2,3% em 2018 e 1,9% em 2019) é mais suave do que aquela que o Banco de Portugal previa em junho, quando projetava expansões de 2% e 1,8%, respetivamente.  A instituição liderada por Carlos Costa divulgou pela primeira vez a previsão económica para 2020, ano no qual estima um expansão de 1,7%.

As previsões do banco central estão praticamente em linha com as do Governo, que no Orçamento do Estado para 2018 estima crescimento de 2,6% este ano e 2,2% no próximo.

“Com o ritmo de crescimento projetado, em 2020 o PIB deverá situar-se cerca de 4% acima do nível registado antes da crise financeira internacional,” salientou o Banco de Portugal.

“A expansão projetada para a economia portuguesa tem subjacente uma recomposição da procura global orientada para um crescimento mais sustentável, assente no dinamismo das exportações e do investimento e num enquadramento internacional favorável”, acrescentou. As projeções apontam para um crescimento “robusto” das exportações até 2020, refletindo aumentos da procura externa e ganhos de quota de mercado.

Após um acréscimo de 7,7% em 2017, as exportações deverão aumentar 6,5% em 2018, 5% em 2019 e 4,1% em 2020, adiantou o banco central, salientando que prevê que as exportações de turismo mantenham um crescimento superior ao das exportações totais.

Investimento dinâmico

“A componente mais dinâmica da procura global deverá ser a Formação Bruta de Capital Fixo (FBCF), refletindo em particular a evolução do investimento empresarial. Depois de um aumento de 8,3% em 2017, a FBCF deverá crescer 6% em 2018 e em 2019 e 5,4% em 2020”, frisou. Alertou, no entanto, que o nível da FBCF no final do horizonte deverá ser 11% inferior ao observado antes da crise financeira internacional.

O consumo privado deverá manter um crescimento inferior ao da atividade, com aumentos de cerca de 2,1% em 2017 e 2018, e em torno de 1,8% em 2019 e 2020. Esta evolução está em linha com a do rendimento disponível real e deverá traduzir-se numa taxa de poupança globalmente estável ao longo do horizonte de projeção.

A inflação irá aumentar significativamente em 2017, para 1,6%, num contexto de recuperação do deflator das importações e de ligeira aceleração dos custos unitários do trabalho. “No restante horizonte de projeção, as projeções para a inflação mantêm-se relativamente estáveis, com uma variação progressivamente menor do preço dos bens energéticos a ser compensada por uma aceleração moderada do IHPC excluindo bens energéticos”.

Segundo o Banco de Portugal, a economia portuguesa deverá continuar a apresentar capacidade de financiamento, o que acontece desde 2012. Após uma ligeira redução em 2017, o saldo da balança corrente e de capital deverá aumentar em 2018 para 2,3% do PIB, fixando-se em 2,2% nos dois anos seguintes.

O banco central descreveu a recuperação da atividade económica em Portugal como tendo sido caraterizada por uma reafectação crescente de recursos para o setor dos bens e serviços transacionáveis. Alertou, no entanto, que para que o crescimento da economia seja sustentável, “é essencial prosseguir a alocação do investimento a áreas que contribuam para o aumento do produto potencial, designadamente através do aumento de capital por trabalhador e de uma melhor reafectação de recursos”.

“É também crucial persistir na redução do endividamento público e do endividamento privado, tirando partido do enquadramento macroeconómico favorável”, vincou, adiantando que “o elevado peso do desemprego de longa duração e a redução da população ativa, que apenas será parcialmente revertida até 2020, também requerem uma abordagem integrada, fundamental para aumentar o nível de produtividade e de bem-estar económico no longo prazo”.

O Banco de Portugal explicou que as projeções para a economia portuguesa apresentadas no Boletim são parte integrante das projeções para a área do euro divulgadas pelo Banco Central Europeu esta quinta-feira após a reunião do Conselho de Governadores.

A instituição liderada por Mario Draghi estima que o PIB da zona euro expanda este ano 2,4%, o que significa uma revisão “substancialmente” em alta em relação às previsões de setembro, altura em que o banco central esperava um crescimento de 2,2%, em 2017. No próximo ano, o BCE estima que o PIB cresça 2,3% em 2018 (face à previsão de 1,8%, em setembro), 1,9% em 2019 e 1,7% em 2020.

Riscos são principalmente externos

Em termos de riscos para as projeções no Boletim Económico, o Banco de Portugal sublinhou que são essencialmente de origem externa. “De entre os riscos descendentes para a atividade, refira-se a possibilidade de agravamento de tensões geopolíticas a nível internacional, onde se destaca mais recentemente a evolução da situação na Catalunha”.

Alertou ainda que a possibilidade de as economias avançadas adotarem medidas protecionistas no médio prazo, onde se inclui a hipótese de um impacto mais adverso do processo de saída do Reino Unido da União Europeia, poderá contribuir também para a incerteza política global.

“Finalmente, não se pode excluir o cenário de um ajustamento económico mais acentuado em algumas economias de mercado emergentes com elevado nível de endividamento, com destaque para a China”.

Explicou, no entanto, que estes riscos podem ser mitigados pela possibilidade de o atual momento cíclico se revelar mais forte do que antecipado a nível global e interno, tendo em conta a melhoria continuada da confiança dos agentes económicos e o potencial impacto das medidas de política orçamental anunciadas nos EUA.

Adicionalmente, ao nível interno há ainda a considerar a hipótese da dinâmica recente dos preços de habitação ter um impacto superior ao esperado no investimento neste setor e no consumo privado.

“Em relação à inflação, consideram-se fatores de risco ascendentes, associados a eventuais aumentos adicionais do salário mínimo em 2018 e 2019, e, em menor grau, à possibilidade de uma política comercial mais protecionista”, concluiu.

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