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Bancos pequenos representam 50% do novo crédito ao consumo concedido

É o regresso ao tempo do crédito ao consumo. No seu relatório o banco central volta a dizer que “é indispensável definir medidas que acelerem a redução do stock de crédito malparado no balanço dos bancos”. E aponta como vulnerabilidades ainda a exposição elevada à dívida pública, ao setor imobiliário e a empresas com forte exposição a economias emergentes.
23 Novembro 2016, 13h05

O forte dinamismo do crédito ao consumo traça o novo perfil do setor bancário. Os novos empréstimo deste tipo de crédito que em 2013 pesava menos de 10% da dívida das famílias, passou a pesar mais de 15% desde o início de 2015. Representa 20% da dívida das famílias e 11% do crédito total, e possui um rácio de crédito em risco de mais ou menos 15%. Dentro do crédito ao consumo, 44% é crédito pessoal, 38% crédito automóvel e 16% cartões de crédito.

Destaque para o papel que os bancos mais pequenos têm neste tipo de crédito. São precisamente os bancos fora do grupo dos oito maiores (portanto os bancos que estão sob supervisão nacional) que dominam este tipo de actividade de concessão de crédito. Os bancos mais pequenos representam desde o fim de 2015 quase metade do fluxo dos novos empréstimos ao consumo.

Os novos devedores têm pouca ou quase nenhuma exposição a crédito (abaixo dos 50 mil euros), avança o banco central.

Eficiência dos bancos

É um dos temas mais importantes do setor, que continua a ter baixa rentabilidade. Nos últimos anos, segundo o REF, os bancos baixaram os seus custos operacionais de 1,63% em 2011 para 1,48% em 2015, em percentagem do ativo, mas no mesmo período as receitas dos bancos, líquidas de imparidades, baixaram mais do que os custos e por isso o peso dos custos na receita líquida de imparidades aumentou de 32% para 39,9%.

Os bancos portugueses estão abaixo da média europeia na eficiência. Por isso a palavra de ordem terá de ser baixar custos ao mesmo tempo que apostam na banca digital e nas Fintechs.

O supervisor bancário salienta que a capacidade de financiamento da economia é nula porque a taxa de poupança interna estagnou em torno dos 15% do PIB (é a mesma desde 2013)  e que compara com uma média europeia de 23%. Por isso o investimento interno só pode ser sustentado pela captação de investimento direto estrangeiro. A taxa de poupança dos particulares no primeiro semestre atingiu o valor mais baixo desde 1999 (é de 2% do PIB quando nesse ano era de 11,4%). A capacidade de financiamento das empresas não financeiras  é também nula, diz o BdP.

O Relatório diz que a redução do ativos dos bancos prosseguiu no primeiro semestre, alicerçada no crédito a clientes.

A rentabilidade do ativo baixou no 1º semestre de 2016, face ao período homólogo para o que contribuiu especialmente, a quebra de resultados de operações financeiras em junho de 2016, justificada pela elevada mais-valia com venda de dívida pública no primeiro semestre de 2015. Mas também o aumento de imparidades e provisões para outros ativos que não crédito.

Riscos e vulnerabilidades

No Relatório de Estabilidade Financeira publicado pelo Banco de Portugal de novembro de 2016  é dito que a natureza dos riscos para a estabilidade financeira manteve-se praticamente inalterada em relação à edição de maio. Os riscos internacionais continuam a ser o prolongamento do ambiente de baixas taxas de juro, a deterioração das perspectivas económicas em geografias a que os bancos e empresas residentes se encontram expostos, a maior volatilidade dos prémios de risco da dívida soberana e o agravamento da percepção negativa dos mercados relativamente a bancos com níveis mais elevados de ativos não geradores de rendimento.

No plano nacional os riscos têm a agravante do baixo crescimento económico potencial e dos elevados níveis de endividamento do setor público e do setor privado.

O Banco de Portugal apela mesmo à necessidade de uma redução sustentada do endividamento do setor público, assente na trajetória de consolidação orçamental e do endividamento das empresas e das famílias, fundamental para a estabilidade financeira.

O Banco de Portugal aponta, como vulnerabilidade, mais uma vez o elevado stock de ativos “não geradores de rendimento no balanço dos bancos”, a exposição elevada à dívida pública, ao setor imobiliário e a empresas com forte exposição a economias emergentes com quebra de atividade económica.

O crédito em risco está em níveis especialmente elevados, sobretudo para empresas e a fraca qualidade do crédito é das coisas que mais penaliza a rentabilidade dos bancos e a sua solvabilidade. A baixa rentabilidade limita a capacidade dos bancos em atrair financiamento e capital junto de investidores.

“Dado que os indicadores não sinalizam um crescimento excessivo do crédito em Portugal em 2016, o Banco de Portugal decidiu manter inalterada (em 0% dos ativos ponderados pelo risco) a reserva contracíclica de fundos próprios”, diz o banco central no seu relatório.

O Banco de Portugal apela ainda que os bancos reavaliem os seus modelos de negócios e a sua estrutura de custos, sempre tendo em vista a evolução demográfica e a crescente digitalização da banca, ao mesmo tempo que mantêm um controlo interno de riscos e governação adequados.

O banco central diz ainda que “é indispensável definir medidas que acelerem a redução do stock de ‘Non-Performing Loans’ [crédito malparado] no balanço dos bancos”.

O Banco de Portugal diz ainda que as limitações impostas pela Directiva sobre Recuperação e Resoluções Bancárias (BRRD) à recapitalização de bancos viáveis com apoio público, bem como as limitações europeias aos auxílios estatais a bancos “tornam particularmente difícil a formulação de estratégias abrangentes e eficazes para solucionar o problema dos NPL, com consequências em vários países europeus”.

Finalmente, destaque no Relatório para os elogios do Banco de Portugal ao plano de recapitalização da CGD, à solução para o impasse à volta da estrutura acionista do BPI, à concretização da entrada de capital no BCP por “novos acionistas” (diz o REF) e a conclusão prevista do processo de venda do Novo Banco.

Para além de elogiar a clarificação do impacto sobre os bancos portugueses do eventual custo a assumir pelo Fundo de Resolução na sequência da medida de resolução aplicada ao BES. Este impacto não se traduzirá em contribuições extraordinárias para o fundo de resolução nem em penalizações imediatas nos capital, sendo diluído por um longo período.

 

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