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Bancos portugueses são os mais expostos ao risco soberano no sistema bancário europeu, alerta DBRS

As exposições a dívida portuguesa representam a maioria das exposições dos bancos CGD, BCP, BPI, Banco Montepio, e Novobanco, cerca de 23 mil milhões de euros a representar 7,7% do total dos activos, enquanto as exposições aos soberanos espanhol, italiano, polaco e irlandês constituem a maior parte das restantes exposições.
12 Julho 2022, 11h05

A DBRS Morningstar realizou uma análise das exposições dos grandes bancos portugueses a dívidas soberanas e a outros títulos de dívida com base nos dados disponíveis de 2021. Os bancos portugueses, dentro do sistema bancário europeu, são os mais expostos ao risco da dívida soberana e de outros títulos de dívida nacionais, conforme dados da EBA, alerta a agência de rating.

Os bancos portugueses têm exposições significativas ao risco soberano, incluindo títulos de dívida e empréstimos, estas exposições atingiram 56 mil milhões de euros, ou 18% do total de activos no final de 2021 no universo da amostra da DBRS que inclui os bancos Caixa Geral de Depósitos, Banco Comercial Português, Banco BPI, Banco Montepio, e Novobanco. As exposições domésticas representam a maioria delas, com 7,7% do total de ativos, , enquanto as exposições aos soberanos espanhol, italiano, polaco e irlandês constituem a maior parte das restantes exposições.

Isto é, as exposições a dívida doméstica representam a maioria das exposições dos bancos CGD, BCP, BPI, Banco Montepio, e Novobanco ao risco soberano – cerca de 23 mil milhões de euros a representar 7,7% do total dos activos – enquanto as exposições aos soberanos espanhol, italiano, polaco e irlandês constituem a maior parte das restantes exposições.

A DBRS realça no entanto que “desde 2018 os bancos portugueses [da amostra] têm efetuado alterações da designação contabilística de alguns títulos de dívida, dos quais os títulos de dívida soberana representam 81% do total, o que levou a uma redução significativa das exposições contabilizadas ao justo valor, enquanto os títulos de dívida contabilizados ao custo amortizado aumentaram significativamente, resultando num menor impacto na conta de resultados P&L [‘profit and loss’] e nos rácios de capital”.

“Os bancos portugueses têm grande parte dos seus títulos de dívida detidos ao custo amortizado, o que protege os rácios de capital contra a volatilidade dos preços dos títulos, uma vez que estes não estão expostos ao mark-to market. Nos últimos 4 anos, os bancos portugueses registaram no agregado um aumento de 20 pontos percentuais na proporção de títulos de dívida ao custo amortizado (54% do total de títulos de dívida no fim de 2021), com os títulos de dívida ao justo valor através de resultados a registar simultaneamente um declínio”, frisa a DBRS.

Os activos financeiros contabilizados ao justo valor através de lucros ou perdas (FVTPL – fair value through profit or loss) caíram de cerca de 20% do total de títulos para cerca de 2% no final de 2021, enquanto os títulos de dívida contabilizados ao custo amortizado aumentaram significativamente durante o mesmo período, explica a agência de rating.

Isto significa que o impacto sobre o resultado líquido da queda dos valores da dívida é reduzido, uma vez que os títulos de dívida contabilizados ao custo amortizado não estão ao mark-to market, que afectaria a conta de resultados.

Embora numa proporção muito inferior, os bancos portugueses ainda mantêm uma exposição significativa a títulos contabilizados em available-for-sale e como tal têm de estar avaliados com base no mark-to-market através de através de outros rendimentos abrangentes (FVOCI – fair value through other comprehensive income).

Apesar de estar em queda, os bancos portugueses têm um nível elevado de activos contabilizados através de outros rendimentos abrangentes (43% dos títulos de dívida). Esta proporção está acima dos níveis agregados tanto no sistema bancário italiano como espanhol (32% e 41%, respectivamente) e aumenta a pressão sobre os rácios de capital durante os períodos de tensão do mercado.

“Estas exposições podem pressionar os rácios de capital dos bancos durante períodos de tensão no mercado em que os spreads soberanos normalmente aumentam. Em tais situações, os valores decrescentes dos títulos detidos no FVOCI não têm impacto directo no resultado líquido, mas são reconhecidos em Outros Rendimentos Abrangentes (OCI). Isto afecta o valor do capital próprio, bem como os rácios de capital do banco”, lê-se no relatório da DBRS.

O aumento dos spreads soberanos teve um impacto nas reservas e nos rácios de capital de alguns bancos portugueses no primeiro trimestre de 2022, no entanto o impacto, por enquanto, parece ser controlável, constata Nicola De Caro, Vice-Presidente Sénior da equipa das Instituições Financeiras Globais da DBRS Morningstar.

O aumento acentuado da inflação e o aperto da política monetária pelo BCE e por outros bancos centrais, tem vindo a subir as yields (rendimentos) das obrigações soberanas europeias. Isto também afectou as yields (juros) das dívida emitida por bancos e empresas. O aumento dos spreads face aos juros da dívida alemã tem sido mais notório em alguns países europeus. No entanto, os spreads face ao benchmark (dívida alemã a 10 anos) diminuíram desde o anúncio do BCE de 15 de Junho sobre potenciais novos instrumentos para enfrentar o risco de fragmentação na Europa, segundo a DBRS.

Na análise a DBRS diz ainda que “embora a maioria dos bancos tenha uma elevada exposição ao risco soberano português, os bancos portugueses também estão expostos a dívidas de outros governos, “com 59% das exposições da nossa amostra a serem não domésticas. Geralmente, uma maior diversificação geográfica pode diminuir o risco potencial de choques macroeconómicos assimétricos, no entanto, a natureza generalizada dos aumentos de das yields significa que o efeito protector da diversificação é reduzido, especialmente se a diversificação envolver outros países do Sul da Europa”.

 

 

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