No próximo dia 25 de janeiro, os gregos vão às urnas para escolher um novo governo e as sondagens mais recentes indicam que o Syriza, o partido da esquerda radical, lidera as intenções de voto. Em segundo lugar está o partido conservador, Nova Democracia, de Antonis Samaras. O Partido Socialista, PASOK, está a lutar para se manter como a terceira força partidária, enquanto Georgios Papandreou, o filho do fundador do partido, cria um PASOK II, chamado Movimento dos Democratas Socialistas, enfraquecendo ainda mais o anémico poder do PASOK no país. Vários outros pequenos partidos tentam ocupar o mesmo espaço; entre eles, os partidos de centro esquerda Dimar e To Potami (em português o Rio) e a Aurora Dourada, o partido de extrema direita, fascista e ultranacionalista.
Apesar desta polarização do eleitorado nos extremos do espectro político, o principal debate destas eleições gira em torno da permanência da Grécia na zona euro. Antonis Samaras afirma abertamente que se o Syriza ganhar as eleições, levará o país a sair da Zona Euro, enquanto o Syriza rejeita essas acusações, alegando que vai renegociar uma reestruturação global da dívida pública e os compromissos assumidos com a troika de forma a aliviar as medidas de austeridade, mas mantendo o país na União Europeia e na Zona Euro.
Na realidade, a maioria dos inquéritos de opinião realizados sustentam que o os gregos querem permanecer na Zona Euro e na UE. Aquilo que o povo grego, com cerca de um terço da população no limiar de pobreza, com extensas manchas de exclusão social e uma taxa de desemprego acima dos 25%, quer verdadeiramente é o alívio das medidas de austeridade, e não a saída do país das estruturas e mecanismos do projeto europeu. Por outro lado, os parceiros europeus afirmam que a pertença ao euro é irrevogável e a saída da Grécia da moeda única não é tema em discussão.
Assim, parece evidente que recorrentes especulações sobre a saída da Grécia da Zona Euro são inconsequentes e uma perda de tempo, pelo menos no atual contexto político.
O verdadeiro drama da Grécia não são as negociações com a troika. O drama da Grécia é a sua recorrente irresponsabilidade política, que está a demonstrar-se novamente com a convocação de eleições legislativas antecipadas para 25 de janeiro, após o duplo insucesso na eleição de Presidente da República pelo parlamento helénico. Uma falta de liderança política coerente, de estratégia e atos íntegros de uma grande parte da elite política grega vai continuar a impedir qualquer mudança económico-política e social estrutural no país.
Na Grécia, os eleitores estão expostos a vários discursos com nuances demagógicas: o do Syriza, que garante que tem a solução ideal e indolor para a saída da crise; o do atual governo, que, perante um endividamento público acima dos 170% do PIB, assume que a Grécia está no bom caminho e que vai cumprir as exigências da troika; e o do partido da extrema direita, Aurora Dourada, que promete expulsar do país os imigrantes que, segundo esta fação, constituem a causa principal dos problemas gregos.
Nestas eleições, muito provavelmente voltaremos a ver um remake do “filme” de 2012: uma ausência de uma maioria absoluta e várias tentativas do partido mais votado para formar um governo de coligação. Se não for possível formar governo, o presidente convocará novas eleições e o impasse político continuará, agravando ainda mais a atual situação problemática do país.
Torna-se assim imprescindível a necessidade de uma reestruturação, mas uma reestruturação do poder político, com a escolha de políticos mais responsáveis, competentes e que defendam, de facto, os superiores interesses da Grécia. Esta é a reforma mais urgente de que o país necessita e cabe ao eleitorado grego promover esta reestruturação, aproveitando a realização deste ato eleitoral. Tarefa difícil mas não impossível.
Evanthia Balla
Professora universitária