Este ano ficou marcado pelo aperto monetário mais rápido da História do Banco Central Europeu (BCE), em resposta ao igualmente inédito surto de inflação neste século. Os juros subiram muito em 2022. As Euribor iniciaram o ano nos -0,5% e, no caso dos 6 e 12 meses, preparam-se para fechar acima de 2,70% e 3,25%, respetivamente. Nas obrigações soberanas, Portugal iniciou 2022 perto de 0% nos 10 anos, que cotam agora nos 3,5%.
Subidas desta magnitude em 2023 são improváveis, mas é natural a apreensão dos agentes económicos porque é provável que os juros continuem a subir. A recente decisão do BCE de subir taxas de juro em 50 pontos base (pb) não apanhou ninguém de surpresa, mas o discurso de Lagarde foi mais duro do que o esperado, talvez porque os sinais de recessão forte já não são tão evidentes.
Outra explicação será que a subida de 50 pb constituiu um abrandamento face às anteriores de 75 pb e o discurso seria uma forma de satisfazer os membros do BCE que defendiam taxas mais altas. De facto, se a situação da inflação é tão grave, por que razão o BCE não subiu novamente 75 pb?
O BCE tem aproveitado a inflação alta para reconquistar a ferramenta “juros” na política monetária e, também por isso, tenderá a subir mais as taxas.
Reconheça-se que os juros reais ainda estão negativos, pelo que o BCE apenas deverá começar a cortar taxas de juro quando a taxa real estiver pelo perto de zero, sendo que terá ainda de ter em atenção que se subir as taxas em demasia, poderá colocar problemas à economia e aos emitentes soberanos – os dez anos italianos já estão acima de 4,5%, com spread face à Alemanha de mais de 200 pontos.
As cotações de mercado descontam que a taxa de depósitos, atualmente nos 2%, suba mais 150 pontos em 2023 para 3,50%, com a última subida a acontecer algures entre junho e julho. Depois, deverá manter-se nesses níveis, embora a curva de rendimentos comece a inverter no final do ano, sinalizando alguma probabilidade de corte.
Quanto às Euribor, tem havido alguma volatilidade nos últimos dias, mas o mercado desconta um máximo de 3,70% em junho de 2023. Acredito que possa cotar um pouco mais alto, sem passar os 4%.
Feliz 2023 para todos!