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“BCE já está a estudar recalibragem de todos os instrumentos” para novo ‘mix’ de estímulos, diz Lagarde

Christine Lagarde, presidente do Banco Central Europeu, salientou que tem “poucas dúvidas de que as circunstâncias previnam a recalibragem e a implementação desse pacote recalibrado”. Na próxima reunião de dezembro, o banco central deverá mesmo disparar novas munições para enfrentar a crise.
29 Outubro 2020, 15h37

Foi por unanimidade que os membros do Conselho de Governadores do Banco Central Europeu (BCE) decidiram reavaliar todas as munições do arsenal de que dispõem para estimular a economia que será seguramente posto em ação em dezembro, mês em que se realizará a próxima reunião do órgão decisor de política monetária da zona euro.

Neste momento, está tudo em jogo. Ao início da tarde em Portugal, o BCE anunciou que manteve inalteradas as políticas monetárias que já estão em execução — o Programa de Compras de Emergência Pandémica (PEPP) não sofreu qualquer alteração — e as taxas de juro diretoras, mas remeteu novas ações para dezembro e revelou que “vai recalibrar os seus instrumentos” para responder da melhor forma possível aos impactos da pandemia na economia.

Christine Lagarde, presidente do BCE, em conferência de imprensa que se seguiu ao anúncio da decisão do Conselho de Governadores, explicou o que se deve entender pela conjugação das palavras “instrumentos” e “recalibrar”.

“Quando dizemos que vamos recalibrar os instrumentos, queremos dizer que são todos os instrumentos e não apenas o PEPP. E recalibrar significa que vamos identificar quais são melhores as formas de usar [os instrumentos], se um ou se vários, e claramente aumentar, estender, trabalhar na duração, no volume e na atratividade dos instrumentos. Faremos tudo isso”, vincou a presidente do banco central.

Dentro destes instrumentos, o PEPP tem sido o mais falado pela imprensa internacional especializada em política monetária. Lançado em março deste ano para estimular a economia e reforçado em junho para 1,35 biliões de euros com duração até junho de 2021, o PEPP é um programa de compras de ativos públicos e privados por parte do BCE, de forma temporária e flexível.

Christine Lagarde deu indícios de que a sua configuração poderá alterar-se em dezembro. “O PEPP tem uma dimensão muito específica, que queremos manter, e tem uma flexibilidade que se aplica a três dimensões: à classe de ativos, à sua duração e às jurisdições [origem dos ativos comprados]. Todas estas dimensões serão analisadas” no processo de recalibragem, explicou a presidente do BCE.

Christine Lagarde tocou várias vezes, durante a conferência, no facto de que a decisão do Conselho de Governadores foi tomada de forma unânime para “analisar atual situação económica e reconhecer que existem riscos negativos”. “Foi com esta análise que decidimos que será necessário tomar ações e, consequentemente, recalibrar os nossos instrumentos na próxima reunião do Conselho de Governadores”, marcada para dia 10 de dezembro.

O Conselho de Governadores não discutiu “de todo” uma alteração às políticas monetárias que já estão em execução, adiantou a presidente do banco central.

Além disso, processo de redefinição do mix de utilização dos instrumentos de política monetária já se iniciou. “As equipas, os comités e os membros do staff já estão a trabalhar neste exercício de recalibragem de todos os nossos instrumentos”, vincou Lagarde.

O objetivo será o de conseguir manter condições de financiamento favoráveis para apoiar a economia e mitigar o impacto negativo da pandemia na economia.

No entretanto, até 10 de dezembro, o BCE não “vai ficar parado”, disse a presidente do banco central. Antes, continuará a executar os seus instrumentos, “com toda a flexibilidade de que dispomos — e aqui, estou claramente a falar do PEPP — para respondermos a qualquer desenvolvimento da situação” da pandemia. “Fizemo-lo no passado, na primeira vaga, e fá-lo-emos novamente, na segunda vaga” da pandemia, salientou Christine Lagarde.

A presidente do BCE explicou ainda a engenharia que vai operar na recalibragem dos instrumentos que, apesar de compreensiva, pareceu um tanto ou quanto dispersa — o que se explica devido ao clima de forte incerteza que se esbate atualmente sobre a conjuntura económica.

O staff do BCE vai ter em consideração diversos elementos, tais como a incidência da pandemia, o ritmo dos contágios, as medidas de confinamento tomadas, as respostas orçamentais dos governos nacionais. “Tudo isto será tomado em conta para que o staff reajuste as suas projecções e construa cenários. É com base nestes indicadores que vamos determinar a recalibragem e a sua melhor estrutura”, adiantou Christine Lagarde.

Foi nesta altura da conferência de imprensa que Lagarde reconheceu a quase inevitabilidade de novos estímulos a partir de dezembro. “Temos poucas dúvidas de que as circunstâncias previnam a recalibragem e a implementação desse pacote recalibrado”.

Economia europeia perdeu ânimo depois do verão

Christine Lagarde revelou que o PIB da zona euro do terceiro trimestre será publicado amanhã e que poderá “surpreender pela positiva”. Mas será sol de pouca dura porque o BCE está “confiante” de que o “número” para quarto trimestre “será negativo”.

“Claramente, antecipamos que o mês de novembro seja muito negativo e vai refletir a desaceleração do ritmo da recuperação económica e a perda de ânimo que se verifica desde setembro”, explicou a presidente do BCE.

A líder do banco central não se quis comprometer com uma projeção do PIB para o quarto trimestre porque tudo vai depender da evolução das medidas de confinamento e da sua eficácia e do ritmo de infeções que, por agora, não passam de meras incógnitas.

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