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Berlusconi pode voltar à ribalta política em 2018

A vitória da coligação de centro-direita nas últimas eleições locais italianas, a audição no Tribunal dos Direitos Humanos em novembro e a falta de opções credíveis no espetro político transalpino. Estes podem ser os ingredientes para o regresso de Silvio Berlusconi à cena política.
28 Junho 2017, 12h54

Aos oitenta anos de idade e depois de banido de cargos públicos e condenado por vários crimes, Silvio Berlusconi pode estar à beira do regresso à ribalta política já nas próximas eleições transalpinas, em menos de um ano.

Um dos fatores que corrobora esta possibilidade são os resultados das eleições locais do passado domingo, onde a coligação de centro-direita conquistou ao Partido Democrático de Matteo Renzi e ao Movimento 5 Estrelas de Beppe Grillo várias câmaras, um pouco por todo o país.

Renato Brunetta, um dos líderes do Forza Italia (partido de Berlusconi), disse à Reuters que Berlusconi “vê este regresso como a última oportunidade da sua carreira. Ele acredita ter sido injustiçado inúmeras vezes e merecer uma última oportunidade. E quem lha pode negar”?

Uma vez que, apesar das tentativas para alterar o método eleitoral italiano, as eleições nacionais de maio de 2018 utilizarão o método da representação proporcional, e que as sondagens apontam para que nenhum partido tenha os votos necessários para governar sozinho, Berlusconi pode ser um dos atores chave nas negociações que a Reuters acredita que se seguirão às eleições.

Se isso significa que Berlusconi possa voltar a ocupar o parlamento italiano é outra questão. Depois de ter sido forçado a demitir-se do cargo de primeiro-ministro em 2011, e dos escândalos sexuais e de favorecimento, Berlusconi foi impedido de alguma vez ocupar um cargo público. Mas o magnata italiano apelou ao Tribunal Europeu dos Direitos Humanos e vai ser ouvido em novembro, numa tentativa de revogar essa decisão judicial.

Giovani Orsina, professor de História política na Universidade de Roma, acredita que, Caso Berlusconi consiga uma decisão judicial em tempo útil, que lhe permita concorrer às eleições de maio do próximo ano, a base de apoio do ex-primeiro ministro ainda é ampla. Para o professor italiano, os eleitores moderados do centro-direita não terão grandes opções a não ser Berlusconi, uma vez que as alternativas são a Liga Norte e o Movimento 5 estrelas, ambos considerados populistas e extremistas, e Renzi.Mas o antigo primeiro-ministro (demitiu-se em dezembro de 2016) “está desacreditado e parece politicamente mais envelhecido que Berlusconi, porque as suas derrotas são mais recentes”, diz Orsina. Para ele, os italianos “não querem saber” da vida sexual de Berlusconi e consideram-no perseguido pelo poder judicial. Além disso, os seus falhanços políticos desvaneceram-se da mente dos eleitores, suplantados pelos resultados igualmente maus dos seus sucessores.

Alessandra Ghisleri, responsável da agência de sondagens Euromedia, é da opinião que Berlusconi ainda comunica melhor que os seus rivais e que os eleitores continuam atraídos pelo seu carisma e charme pessoal. “É como se ele não seguisse as regras. Ele [Berlusconi] é ele próprio, sem fingimentos, e os seus eleitores gostam dele por ser direto”, afirma Ghisleri à Reuters, acrescentando, “ele também é um bom ouvinte e olha sempre nos olhos os seus interlocutores.”

O próprio tem consciência do seu papel nas próximas eleições e dá já passos nesse sentido. De acordo com Brunetta, Berlusconi passa a maior parte do tempo na sua villa nos arredores de Milão, mas vem a Roma duas vezes por semana para se encontrar com legisladores e discutir estratégia política.

O programa eleitoral para maio está já a ser desenhado e terá como principal elemento uma simplificação “drástica” do código fiscal, diz Brunetta. Todos os escalões de imposto serão substituídos por uma “taxa fixa” de 20%, tanto para os particulares como para as empresas, e existe mesmo um novo símbolo para fazer passar a mensagem, a “Árvore da Liberdade”.

“As raízes são os nossos valores, o tronco a nossa história, os ramos os vários temas que abordamos e os frutos são as nossas soluções para os problemas”, conclui Brunetta.

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