Artigo originalmente publicado no caderno NOVO Economia de 3 de junho, com a edição impressa do Semanário NOVO.

Joe Biden conseguiu evitar a falência histórica dos Estados Unidos da América. O Congresso deu a aprovação final na quinta-feira à legislação que permite aumentar o tecto da dívida colocando fim à tensão entre republicanos e democratas.

Analisando o acordo, a Bloomberg Economics destaca que os limites à despesa durante dois anos vão ser mais um problema a juntar a uma “economia já vulnerável à recessão”, e vão ter um efeito muito ligeiro na “trajectória insustentável de médio-prazo da dívida federal norte-americana, que estimamos que suba dos 97% sobre o PIB em 2022 para mais de 130% do PIB em 2033”, segundo as economistas Anna Wong e Maeva Cousin.

Os cortes vão ter de ser decididos pelo Congresso antes do início do novo ano orçamental, a 1 de Outubro. A austeridade pode atingir principalmente os americanos com menos rendimentos que vão ter cortes nos subsídios ou em serviços, e os estudantes universitários com empréstimos federais podem ter de voltar a pagar os créditos e juros, que estão suspensos desde a pandemia.

No entanto, a Casa Branca já disse que vai conseguir ultrapassar a maior parte dos cortes com acordos, o que significa que vai ter lugar um congelamento da despesa. Entretanto, no resto do mundo está a ter lugar uma guerra ao dólar, com vários países a darem passos concretos para reduzirem a dependência dos EUA.

O Brasil e a China assinaram recentemente um acordo para realizar trocas comerciais nas suas moedas; a Índia e a Malásia assinaram em Abril um acordo para aumentar o uso da rupia nos seus negócios; o Paquistão quer pagar petróleo à Rússia em yuans; os Emirados Árabes Unidos disseram no início do ano estar em discussões com a Índia para aumentar o comércio de produtos extra-petróleo em rupias; a Coreia do Sul e a Indonésia assinaram recentemente um acordo para promover trocas directas em wons ou rupias; a própria França já começa a realizar transacções em yuans, destaca a Bloomberg.

De todas as transacções mundiais, mesmo as que não envolvem os EUA ou as suas empresas, 88% são feitas em dólares. O exemplo da Rússia foi claro para todos, depois da invasão da Ucrânia, os Estados Unidos, entre outras sanções, congelaram centenas de mil milhões de dólares das reservas estrangeiras de Moscovo.

“Um actor racional que sabe que pode vir a estar potencialmente nessa situação no futuro vai preparar-se para esse cenário. Talvez a mudança seja marginal agora” e “pode não destronar o dólar”, mas vai contribuir para “reduzir o poder económico norte-americano”, disse à Bloomberg Daniel McDowell, professor de ciência política da Universi dade de Syracuse.

Apesar de con tinuar a ser a principal moeda de reserva, o seu uso está em declínio, longe dos máximos atingidos no início deste século. A China de Xi Jinping tem liderado esta tendência, ambicionando um maior uso para o yuan a nível global.

Pequim tem um objetivo claro: expandir o uso da sua moeda. Mas os exemplos dados acima demonstram como vários outros países estão a apostar no movimento conhecido como desdolarização. Entretanto, por cá, a bolsa de Lisboa sofreu uma queda superior a 8% durante o mês de Maio face a período homólogo.

As maiores quedas, acima de 13%, foram registadas pela NOS e pelos CTT. Destaque para as quedas do BCP (-12%), Galp (-10%), EDP (-9%) e a EDP Renováveis (-8%). Analisando a queda, a Maxyield aponta para a correção das cota ções com o elevado dividend yield (média de 4,6% contra 2,5% do Stoxx 600), a “fraca valorização da boa época de resultados do primeiro trimestre”, “situações de short selling (venda a descoberto)” na Altri, Galp, NOS e BCP, “contágio negativo dos mercados europeus” e “incertezas e receios face à conjuntura económica internacional”.