Depois de excelentes resultados do sector do Futebol Profissional em 2018-19, a situação pandémica veio alterar a capacidade de crescimento dos clubes nacionais na época 2019-20, com a agravante que o foco não foi a criação de valor e o planeamento estratégico do futuro, mas sim a sobrevivência e a resolução diária de problemas a todos os níveis.

Com a 4.ª edição do Anuário do Futebol Profissional Português, apresentado pela EY, em abril, conseguimos perceber melhor as maiores dificuldades sentidas pelos nossos clubes na época em que tudo começou. É interessante fazer também o exercício de comparação com as estimativas que foram, ao longo da época, apresentadas por diversas entidades, sobre o potencial de impacto neste sector.

Diria que a primeira grande conclusão é que os clubes conseguiram desenvolver estratégias mitigadoras das perdas de receitas estimadas inicialmente, que apontavam para perdas de 135 milhões de euros, sendo que as mesmas se cifraram em apenas 98 milhões de euros.

Mas as más notícias vêm do lado dos gastos, onde ao contrário das estimativas, que seria possível reduzir os gastos em 96 milhões, a realidade foi que apesar de diminuírem os custos operacionais em dia de jogo, os custos com testagens Covid-19, teletrabalho e telepreparação física dos jogadores, reforço das equipas técnicas e de suporte para o acompanhamento dos jogadores, desinfeção, higienização e limpeza de instalações, compra de equipamentos de proteção, entre outros, fizeram aumentar esta rubrica em 9 milhões de euros.

Desta forma, um sector que tinha apresentado um superavit de 80 milhões, passou para uma situação agregada de deficit de 27 milhões, com o inevitável impacto de degradação do passivo das empresas do sector.

Para a economia nacional, com a quebra do PIB nacional, o impacto do Futebol Profissional manteve-se muito próximo dos valores anteriores, 0,26%, contra os 0,27% de 2018-19, significando quebras de 8 milhões de impostos para o Estado, cifrando-se nos 142 milhões.

Como já indicado, a pandemia veio a obrigar ao aumento dos postos de trabalho, para suporte às equipas de futebol, sujeitas a novas situações de teletrabalho/prática desportiva. Esta situação leva-nos à conclusão inevitável de que, dadas as contribuições do sector para a economia nacional, o mesmo deveria ser, tal como qualquer outro sector económico, apoiado na sua recuperação.

A Liga Portugal, neste período, fez um esforço elevado com vista à contenção de custos, definindo de imediato oito medidas mitigadoras do impacto da pandemia, que permitiram manter o resultado líquido da organização nos 1,1 milhões euros programados no plano de atividades, apesar da diminuição de receitas em 700 mil euros.

Desta forma, demonstra a capacidade e flexibilidade do organismo em, rapidamente, reagir a situações de crise, o que é fundamental em organizações eficientes e adaptadas aos novos tempos.