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Brasil com presidenciais à vista: da venda de toalhas aos ‘shows’, tudo é política

A polarização entre Jair Bolsonaro e Lula da Silva chegou ao dia a dia da sociedade, da venda de toalhas às cores das roupas. Eleições presidenciais estão a menos de três meses.
16 Julho 2022, 08h54

A menos de três meses das presidenciais brasileiras, a polarização entre Jair Bolsonaro e Lula da Silva chegou ao dia a dia da sociedade, desde a venda de toalhas, às cores das roupas e até aos espetáculos musicais.

Um pouco por toda a capital brasileira, Brasília, é possível encontrar vendedores de toalhas com as caras do Presidente brasileiro, Jair Bolsonaro, e do ex-Presidente e candidato Luiz Inácio Lula da Silva, lado a lado com as de clubes de futebol como o Flamengo, mas também Palmeiras e Corinthians, treinados pelos técnicos portugueses Abel e Vitor Pereira, respetivamente.

“Vende mais Flamengo, mas depois é Lula” conta à Lusa Edson, ao mesmo tempo que ergue a mão em forma de L, símbolo que se tornou famoso no Brasil para demonstrar apoio a Lula.

O seu ‘posto’ de venda, perto da Rodoviária do Plano Piloto, tem um fluxo de milhares de trabalhadores provenientes das cidades satélites, menos endinheirados e por isso preferem Lula, na maioria dos casos, explica.

Até porque, conta, mais próximo da Praça dos Três Poderes, nos três edifícios monumentais que representam os três poderes da república brasileira, vence a toalha de Bolsonaro, porque há muitos turistas que vêm em grupo vestidos com a camisola amarela da seleção brasileira, um símbolo que foi ‘capturado’ pela campanha do Presidente brasileiro.

A politização no dia-a-dia no Brasil, explica à Lusa o professor de ciência política da Universidade de Brasília Thiago Trindade, é a consequência da “dimensão carismática da personalidade política, tanto de Lula, como de Bolsonaro, que conseguem mobilizar uma base mais engajada [envolvida] e apaixonada”.

“Você só mobiliza as pessoas em torno de alguma causa se você consegue tocar no sentimento delas, se você consegue mobilizar as emoções delas”, sublinha.

Ainda assim, Thiago Trindade lembra que “é uma caraterística mais ou menos geral do embate político e mais precisamente partidário”, em países onde essa lógica também aconteceu, e às vezes “até mais intensa” como nos Estados Unidos e Reino Unido.

O que o Brasil tem de próprio, sintetiza, é a existia de duas figuras que transmitem “paixões, projetos, crenças e visões de mundo que são pontos sensíveis” em alguns quadrantes da sociedade.

Num destes quadrantes encontram-se os artistas musicais: Nos últimos meses tem-se notado um aumento exponencial de demonstrações políticas por parte dos artistas brasileiros.

‘Fora Bolsonaro’, ‘Lulalá’, ou ‘Fora o comunismo’ tornaram-se frases comuns em espetáculos musicais, discotecas e rodas de samba um pouco por todo o país.

Os casos mais proeminentes nos últimos tempos, sem contar com o apoio de Annitta a Lula esta semana, foram os casos da cantora Daniela Mercury e do cantor sertanejo Gustavo Lima, com acusações mútuas de dinheiros públicos envolvidos nos ‘shows’ dos artistas.

Em Brasília, o locutor do ‘show’ de Gustavo Lima dirigindo-se aos milhares de fãs no emblemático estádio Mané Garrincha atirou frases como, “Deus, pátria e família”, “aqui nunca vai ser o comunismo”, “liberdade para pensar, liberdade para agir, liberdade para conversar, liberdade para estar na internet, liberdade de expressão”, temas recorrentes de Bolsonaro.

Na opinião de Thiago Trindade, o sertanejo “tem um campo social que está muito aglutinado em determinados valores políticos, valores sociais, modo de vida, muito próximos da perspetiva do projeto político do agronegócio, do latifúndio, da grande propriedade rural, da fazenda”.

“Esse campo tem na base um princípio muito forte do qual ele não consegue abrir mão que é o direito sagrado à propriedade privada e ele vê no PT e no Lula (…) um bando de gente comunista que quer arrancar a propriedade privada deles”, detalha.

“Isso é um facto e isso está a acontecer concretamente, agora a pergunta que eu faço é: é o Bolsonaro, será que essas pessoas são leiais ao Bolsonaro, ou são leais a um movimento ‘antipetista’”, questiona.

Para o professor da universidade de Brasília, Bolsonaro agrega um campo conservador e na sua maioria autoritário, um campo “político que compactua com a ditadura militar, que faz apologia à tortura, que diz que bandido bom é bandido morto”, entre outras.

E do outro lado, Lula, que “mobiliza um campo de forças sociais que estão mais alinhadas a esse tipo de bandeira, como a defesa da democracia, dos direitos humanos, das liberdades democráticas, a proteção do trabalho em frente ao capital”, conclui.

De acordo com todas as sondagens, a reeleição de Bolsonaro nas eleições presidenciais de outubro é uma luta difícil, já que até agora conta com cerca de 30% nas intenções de voto, face aos 45% do ex-Presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

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