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Bruxelas investe 443 mil euros em projetos de inovação na Universidade Nova

São nove os projetos da Nova que vão receber fundos comunitários. Desenvolvidos em parceria com outras organizações europeias,os projetos portugueses integram a EIT Raw Material, o maior consórcio no setor de matérias-primas do mundo.
  • Jose Manuel Ribeiro/Reuters
3 Novembro 2018, 09h00

Instituto Europeu de Inovação e Tecnologia (EIT) vai atribuir, no próximo ano, 443 mil euros à Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade Nova de Lisboa (FCT-Nova) para o desenvolvimento de projetos de inovação e tecnologia. A FCT-Nova é uma das parceiras deste organismo europeu, num consórcio de matérias-primas (‘EIT Raw Materials’), e vai receber financiamento por nove projetos que está a desenvolver em conjunto com outras empresas, instituições de pesquisa e universidades europeias.

A unidade orgânica de engenharia e ciências da Nova concorreu à última chamada para obter financiamento de projetos inovadores do ‘EIT Raw Materials’, a 28 de fevereiro. Submeteu nove propostas a concurso, das quais quatro foram aprovadas e se encontram já em funcionamento. Estas quatro propostas vão juntar-se a outros projetos já em atividade, incluindo cursos de doutoramento (PhD) para o setor de matérias-primas, à procura de métodos alternativos para diminuir a dependência europeia de materiais provenientes de regiões fora do Velho Continente.

Ao Jornal Económico, Didier Zimmermann, general manager do hub central do ‘EIT Raw Materials’ (onde se inclui a FCT-Nova), destaca o potencial de Portugal no que toca à inovação e tecnologia. “Portugal é um dos nossos parceiros em vários projetos de inovação, através da FCT-Nova, e tem trabalhado em conjunto com várias empresas, centros de pesquisa e universidades europeias em iniciativas que visam diminuir a dependência externa da Europa. Além de contribuir com vários especialistas na área da inovação e tecnologia, Portugal está também envolvido em projetos de educação, como mestrados e PhD”, afirma.

Um dos projetos desenvolvidos pela FCT-Nova, que Bruxelas vai financiar, é o ‘SuperSmart’. A iniciativa visa a impressão direta em papel de sensores ou chips, com vista a facilitar o acesso a informações que constam em meios físicos. Através desta tecnologia, os consumidores vão poder, por exemplo, complementar a informação que vem disponível no seu cartão de contacto profissional, com informação extra que pode ser lida digitalmente.

Didier Zimmermann explica que “a impressão eletrónica de chips em papel é um projeto barato e permite combater o uso excessivo de resina”. “Se quisermos, podemos sonhar que em breve a cloud será o sítio onde guardamos toda a nossa informação, a nossa casa”, defende. Este projeto, cujo principal parceiro é o grupo industrial francês Arkema, deverá receber a maior fatia da verba atribuída à FCT-Nova: 109,6 mil euros. Um valor que corresponde a quase um quarto do valor atribuído pela União Europeia à FCT-NOVA.

O ‘PhosForce’ é outro dos projetos que vai receber mais financiamento comunitário em 2019. O projeto pretende dar resposta à dependência da Europa no que toca ao fosfato, um elemento químico essencial e insubstituível para os seres humanos e para a natureza. Como a União Europeia depende em 92% de outros países para responder às suas necessidades no que diz respeito ao fosfato, o PhosForce procura olhar para fontes secundárias e formas de reciclar materiais em fim de vida.

“A maior parte do fosfato usado pela União Europeia para a produção de fertilizantes vem de Marrocos, mas as reservas estão a decair e temos de encontrar alternativas para assegurar a continuidade da indústria de fertilizantes”, explica Didier Zimmermann. O esquema proposto pelo ‘PhosForce’ prevê, por exemplo, a recuperação de fosfato presente no fluxo de lamas das estações de tratamento de águas residuais (ETAR), tornando-o reutilizável. A iniciativa abrange mais quatro países – Dinamarca, Polónia, Alemanha e França –, mas é em Portugal, na FCT-Nova, que a investigação é desenvolvida. Bruxelas vai atribuir 80,1 mil euros ao ‘PhosForce’.

Na lista de projetos da FCT-Nova que vão ser financiados por Bruxelas estão ainda o ‘MineHeritage’, que visa integrar a sociedade na procura do conhecimento científico e na importância dos materiais e matérias-primas para o desenvolvimento da Europa; o ‘AMIR-RIS’, OpenYourMine’, ‘BioLeach’ e o ‘RM@Schools 3.0’, que consistem em programas de mestrado diferentes para ensinar novos métodos de uso e reciclagem de materiais; o ‘IDS-FunMat-Inno’, um projeto que quer criar doutoramentos preparados para inovação radical e empreendedorismo; e o ‘Extracthive’, que oferece o seu know-how aos players industriais que enfrentam problemas de recuperação e reciclagem de resíduos.Nova

Em busca de uma UE independente nas matérias-primas

Depois da criação das Comunidades de Inovação do Conhecimento (CCI) para as áreas das alterações climáticas, energias renováveis e TIC, as matérias-primas foram o novo desafio anunciado pelo EIT no início de 2015. O ‘EIT Raw Materials’ tem como meta  introduzir novas soluções, produtos e serviços que possibilitem explorar, extrair, processar e reciclar matérias-primas de forma sustentável. Um dos grandes objetivos do ‘EIT Raw Materials’ é tornar “o desafio da dependência das matérias-primas uma força estratégica na Europa”.

“Na União Europeia, há um grande gap entre o que consumimos e o que produzimos ou temos disponível. Estamos a falar de uma diferença de 25% de consumo para 4% de produção. O nosso desafio é encontrar soluções através da inovação para tirarmos maior proveito dos minerais que temos ao nosso dispor”, explica Didier Zimmermann. “Queremos tornar a Europa menos dependente da China, América do Sul, Austrália e África do Sul e, com isso, criar novos postos de trabalho em todo o continente ligados às várias fases de tratamento das matérias-primas, bem como impulsionar a competitividade, o crescimento e a atratividade do setor”, defendeu aquele responsável.

O ‘EIT Raw Materials’ é o maior consórcio no setor de matérias-primas em todo o mundo, e conta com a participação de mais de 120 parceiros.

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