A violência nas escolas portuguesas é um tema crítico para a sociedade. O mais recente exemplo daquilo que não deveria acontecer ocorreu numa escola do Seixal com colegas a perseguirem um colega de 13 anos de idade. A perseguição acabou com um atropelamento.

Vamos pensar de uma forma racional, a frio e sem a espuma das considerações das redes sociais.

O bullying é um anglicismo e não é um défice da lei. Sempre existiu como violência e isso está tipificado. O bullying não existe desde que se importou a palavra estrangeira, e hoje é um tema tão relevante que há quem, no ensino, já esteja a preparar um código de proteção e segurança dos alunos.

O que aconteceu no Seixal revela que a sociedade, toda ela, está doente. Parafraseando o animador Nuno Markl, “nunca se odiou tanto no país”.

Claro que a Covid-19 foi um acelerador, mas o problema está na educação em casa, no seio da família (conceito à beira da extinção). Está na falta de autoridade das direções das escolas. E está, muito claramente, num problema gerado pelas redes sociais, transformadas na “sanita” das pessoas amarguradas e que, a coberto do anonimato (ou não), se servem do espaço cibernético para “vomitar” toda a infelicidade das respetivas vidas.

Isto sem esquecer o bullying de outros tempos. Houve muita violência na Casa Pia, nas escolas e nos colégios em geral, algo, aliás, ligado às praxes académicas do século XIX. Mais recentemente assistimos a praxes indignas feitas por universitários sobre caloiros e que, como vimos no Meco, levou à morte.

Sobre este ponto é de questionar o que se espera de futuros gestores, dirigentes empresariais ou figuras públicas que na sua juventude sujeitaram colegas mais jovens a práticas indignas…

De regresso ao bullying praticado no Seixal, aquilo que se pode afirmar é que aquele não é mais do que a face da total desqualificação das classes dirigentes. E estas são sementes que dão fruto. Temos de condenar também o paternalismo e o maternalismo protetor e desculpador dos filhos. Invertemos as coisas numa sociedade onde os miúdos têm a liberdade de fazer tudo o que querem.

A isto acresce a escola, que antigamente era um santuário de segurança e hoje nem consegue levantar a voz contra os problemas. As escolas e os seus dirigentes letivos e funcionários administrativos têm medo de levantar a voz contra um aluno indisciplinado. Chamam o pai ou a mãe e estes não respondem ou tomam o partido dos filhos.

A solução das escolas passa pela expulsão, porque nem sequer são condenados a trabalho comunitário. Vão para outra escola e continuam no mesmo registo até chegarem à idade em que poderão engrossar o vasto leque de cidadãos a contas com a justiça e à sua consequente exclusão da sociedade e oportunidades.

Criámos o círculo vicioso dos cidadãos improdutivos mas que não assumem a culpa. Esta é da sociedade e de todos os outros. Espantoso é ouvirmos a conversa de jovens de 17 ou 18 anos, com idade para entrar na universidade, a discutirem a série de anime “Naruto”, um jovem ninja que quer ser líder na sua comunidade. A discussão que se ouve de um jovem – com idade para votar – não é a análise de uma obra de arte, mas a discussão na perspetiva de um super-herói. Sem palavras!