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Cadeias de Abastecimento Globais em Risco de Colapso?

Os Bancos Centrais já tinham manifestado há meses preocupações com o impacte das restrições nas cadeias de abastecimento sobre o comércio internacional, mas agora manifestam mais preocupações ao perceberem que essas restrições podem não ter um caráter passageiro, podendo tornar-se persistentes por vários anos. Já deixaram de falar com convicção aparente em pressões inflacionistas temporárias.
5 Outubro 2021, 07h15

Cadeia de abastecimento de uma empresa é a rede composta entre a empresa e os seus fornecedores. Uma cadeia de abastecimento global é uma rede formada entre um conjunto de empresas produtoras de bens finais disponibilizados globalmente e as suas fornecedoras de matérias-primas e bens intermédios. Porquê o temor do risco de colapso das cadeias de abastecimento globais?

Quando em agosto o porto de Ningbo-Zhoushan, o porto de contentores mais movimentado do mundo em termos de tonelagem, encerrou por haver um funcionário que testou positivo para a Covid-19, criou-se uma grande pressão sobre várias cadeias de abastecimento globais. Em poucos dias, centenas de navios atracaram ao largo desse porto, o que induziu ao aumento dos custos dos fretes, o que se repercute no aumento dos custos de produção em termos globais.

A poluição nas grandes cidades e centros industriais da China têm obrigado à suspensão de diversas fábricas, incluindo fundições de metais, fornecedoras de componentes para telemóveis, entre inúmeras outras suspensões e encerramentos na indústria manufatureira da China por razões ambientais, de saúde pública, e de cortes no fornecimento energético. As metas ambientais de Pequim incorporam um caráter mais permanente nestas restrições.

No Reino Unido faltam motoristas de camiões, o que põe em causa o abastecimento de diversos bens, principalmente os que necessitam de motoristas com formação e experiência especiais, como os de combustíveis. Nesse mesmo gigante económico, sete empresas fornecedoras de energia faliram nos últimos dois meses, deixando cerca de dois milhões de britânicos sem fornecedor de energia. Já se antevê uma elevação significativa dos preços no mercado energético.

Estes são apenas alguns exemplos de que as cadeias de abastecimento globais estão a entrar em risco de colapso. Desde as filas de quilómetros nas bombas de combustíveis que se assistiram em maio na costa Leste dos Estados Unidos da América que estes exemplos têm sido recorrentes, afetando de forma direta e incisiva alguns grandes players da economia mundial.

Os Bancos Centrais já tinham manifestado há meses preocupações com o impacte das restrições nas cadeias de abastecimento sobre o comércio internacional, mas agora manifestam mais preocupações ao perceberem que essas restrições podem não ter um caráter passageiro, podendo tornar-se persistentes por vários anos. Já deixaram de falar com convicção aparente em pressões inflacionistas temporárias.

Se as pressões inflacionistas persistirem nos próximos meses, é praticamente garantido que os aumentos das taxas de juros previstos para o fim de 2022 poderão ser antecipadas. Você, a sua empresa, estão preparados para aumentos nas taxas de juros? A sua família está preparada para o fim das moratórias? Como nos preparamos.

Em primeiro lugar, os governantes devem considerar com seriedade a questão da constituição de reservas estratégicas, principalmente de combustíveis e alimentos. O mesmo para empresas mais dependentes do fornecimento externo de matérias-primas e componentes, mesmo que isso implique aumento nos custos de armazenamento.

Em segundo lugar, os bancos e as famílias devem considerar uma margem de segurança maior nas taxas de esforço dos créditos hipotecários. O fim da era das taxas historicamente baixas e próximas de zero está prestes a terminar.

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