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Candidatos apoiados por Bolsonaro e pelo PT grandes derrotados da primeira volta das municipais brasileiras

Presidente brasileiro exultou com a “histórica derrota” da esquerda nas eleições municipais de domingo, mas a votação trouxe más notícias para os seus aliados. O centro-direita tradicional ganha peso, com Bruno Covas e Eduardo Paes à frente em São Paulo e no Rio de Janeiro, num bom sinal para uma candidatura “anti-Bolsonaro” às presidenciais de 2022.
16 Novembro 2020, 10h50

A quebra de popularidade do presidente brasileiro Jair Bolsonaro refletiu-se na primeira volta das eleições municipais brasileiras, realizada neste domingo, com vários candidatos que contaram com o seu apoio a serem derrotados ou afastados da segunda volta, marcada para 29 de novembro nas 57 cidades onde ninguém conseguiu mais de 50% dos votos. Mas além da vaga de vitórias de partidos do centro-direita e direita tradicionais, como o Democratas e o Partido da Social Democracia Brasileira (PSDB), também houve más notícias para o Partido dos Trabalhadores (PT), dos ex-presidentes Lula da Silva e Dilma Rousseff, que se viu ultrapassado por outros partidos de esquerda, nomeadamente o Partido Socialismo e Liberdade (PSOL).

Principal cidade brasileira, São Paulo foi o melhor exemplo de como as municipais foram desastrosas para Bolsonaro – que neste momento não tem partido, mas apoiou candidatos da sua base de apoio no Congresso – e para o PT. A segunda volta será disputada pelo atual prefeito Bruno Covas, do PSDB, que conseguiu 32,86%, e pelo ex-candidato presidencial Guilherme Boulos, do PSOL, que teve 20,24% dos votos. Apoiado por Bolsonaro, Celso Russomanno (Republicanos) foi apenas quarto (com 10,50%) e o “petista” Jilmar Tatto não foi além da sexta posição, tendo apenas 8,65% dos paulistanos a seu lado.

Mas também o Rio de Janeiro desiludiu o presidente brasileiro, pois o atual prefeito Marcelo Crivella (Republicanos), um antigo bispo da Igreja Universal do Reino de Deus conhecido pelas políticas ultraconservadoras, não foi além do segundo lugar (21,9%), estando em clara desvantagem na segunda volta a disputar com o vencedor, Eduardo Paes (Democratas), que procura voltar a liderar a “Cidade Maravilhosa”, conseguindo 37,01% dos votos. Fora da disputa de 29 de novembro ficou a esquerda, com a lusodescendente Martha Rocha (PDT) a convencer 11,3% dos eleitores, ficando à frente de Benedita da Silva (PT), que obteve 11,27%.

Em Belo Horizonte, capital do estado de Minas Gerais, Alexandre Kalil (PSD) foi reeleito logo à primeira volta, com 63,36% dos votos, deixando muito para trás o “bolsonarista” Bruno Engler (PRTB), que teve 9,95% dos eleitores consigo. E mesmo nas cidades onde o presidente mantém bons resultados nos inquéritos de opinião sucederam-se desaires dos “seus” candidatos. Foi o caso de Manaus, capital do Amazonas, pois a divisão de eleitorado entre dois aliados do presidente acabou por afastá-los da segunda volta.

Apesar disto, Jair Bolsonaro recorreu ao Twitter na noite de domingo para partilhar uma leitura assaz otimista dos resultados das eleições municipais. “De concreto, partidos de esquerda sofreram uma histórica derrota nessas eleições, numa clara sinalização de que a onda conservadora chegou em 2018 para ficar. Para 2022 a certeza de que, nas urnas, consolidaremos nossa democracia com um sistema eleitoral aperfeiçoado. Deus, Pátria e Família”, escreveu o presidente, que dentro de dois anos tentará reeleger-se, tendo contra si não só a esquerda mas provavelmente também os partidos que apoiaram a presidência de Fernando Henrique Cardoso entre 1995 e 2002.

A possibilidade de Bolsonaro enfrentar um candidato do centro-direita, num processo negocial que envolve figuras como o apresentador de televisão Luciano Huck, o ex-ministro da Justiça Sergio Moro e o governador de São Paulo, João Doria (PSDB), saiu reforçada pelo resultado das eleições municipais. O Democratas não só deverá garantir o Rio de Janeiro, pois Eduardo Paes passará para a esquerda como um “mal menor” para afastar Marcelo Crivella, como garantiu logo à primeira volta as prefeituras de Salvador da Baía, Curitiba e Florianópolis.

Quanto ao PSDB, além de ser o claro favorito em São Paulo – onde o eleitorado bolsonarista dificilmente preferirá contribuir para a vitória de Guilherme Boulos -, venceu na cidade de Natal, mas sofreu um revés em Porto Alegre, capital do Rio Grande do Sul, pois o atual prefeito Nelson Marchezan Júnior ficou de fora da segunda volta, a disputar entre Sebastião Melo (MDB), com 31,01% dos votos, e Manuela d’Ávila (PC do B), com 29%. A candidata a vice-presidente de Fernando Haddad nas presidenciais de 2018 é uma das esperanças de uma esquerda brasileira em que a hegemonia do PT parece não ter resistido à detenção de Lula da Silva e ao impeachment de Dilma Rousseff.

Mesmo o fundador e líder histórico “petista” Lula da Silva chegou a apelar para que o partido apoiasse Guilherme Boulos em São Paulo logo na primeira volta, precavendo a hipótese de o candidato do PSOL ficar afastado da disputa eleitoral. E para o PT restam poucas hipóteses de conquistas eleitorais significativas a 29 de novembro, mantendo-se na corrida em Vitória do Espírito Santo e no Recife, um dos bastiões nordestinos que procura conservar.

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