É terça-feira. Saio da sala de aula a pensar que preciso do fim de semana para descansar. Os dias parecem ser mais longos, as horas mais e mais intensas e dos minutos saem doses fortes de angústia.

Não sei se por causa da pandemia – e tudo a que nos obrigou e continua a obrigar – ou pela velocidade do tempo, para onde, e quem, olho, encontro cansaço. Muito cansaço. Pessoas cansadas pelo ritmo da vida, cansadas pelo peso da dúvida, cansadas das obrigações acumuladas, cansadas pelo stresse permanente, cansadas umas das outras.

O lugar de onde vejo mais recorrentemente o mundo é a academia. Nele encontro-me com colegas esgotados, desanimados, desesperançados até. Nele contacto com estudantes alheados, desorientados, ansiosos e, também eles, muito cansados.

Sento-me num banco de jardim frio das terras da Beira e olho à minha volta. Como se o universo implodisse se parássemos de gritar e passássemos a conversar. E lá vamos: em pleno filme de ação diário como se não houvesse amanhã.

É o cansaço coletivo, onde novos e velhos adoecem de tão vorazes que são os dias, de tão irados que somos uns com os outros e com nós mesmos. Temos medos, temos dúvidas, temos falta de confiança nos sistemas político, financeiro e até social, e estamos fartos de máscaras, de álcool-gel e do receio de ser contaminados pelo nosso inimigo comum: SARS-COV2. E, talvez por tudo isto, estaremos a viver a pior das epidemias: o declínio generalizado da saúde mental.

Estamos a ficar doentes e muitos/as de nós ainda não nos apercebemos. Será da incerteza política-económica-financeira? Será do receio da perda de trabalho e da escassez material? Será do medo do lugar desconhecido para onde a Covid-19 nos trouxe?

Será das exigências sem fim que o mundo do trabalho, e até os momentos não-laborais, nos colocam? Será porque não sabemos desligar a tomada que ligamos quando nos venderam a ideia de produtividade 24 horas por dia (lembram-se da troika?)?

Não encontro as respostas, mas a partir deste questionamento constante, crio novos receios: de eleições que possam fazer emergir com mais força políticas radicais, de uma democracia que anda à procura do seu (novo) espaço (tão difuso quanto frágil), de um capitalismo feroz que nos olha como números andantes e produtivos (ou não), de uma liberdade crescentemente condicionada, de discriminações mais ou menos públicas sobre as comunidades minoritárias, de um país (à imagem de tantos outros) muito cansado de si e dos seus.

Sim, é um texto sobre cansaço. Até cansaço de escrever sobre cansaço.