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Caos no sector europeu da aviação com milhares de voos cancelados no verão (com áudio)

O primeiro verão pós-pandemia Covid-19 ameaça ser caótico para os viajantes na Europa. Trabalhadores das companhias aéreas exigem aumentos salariais depois dos cortes durante a pandemia e com a subida do nível de vida. Falta de pessoal devido a reestruturações também está a complicar a situação.
5 Julho 2022, 06h50

O sector europeu da aviação vai viver um autêntico caos neste verão com milhares de voos cancelados. Greves e falta de pessoal vão afetar a vida de milhares de viajantes na Europa durante os próximos meses.

A Brussels anunciou hoje que vai cancelar 700 voos durante o verão, cerca de 6% dos previstos, para reduzir a carga de trabalho e evitar greves. Com estes cancelamentos, a companhia deixa de encaixar 10,2 milhões de euros em receitas.

“Estamos a ir de encontro às exigências dos sindicatos e esperamos que não seja necessário tomar mais medidas [durante o verão]. Para soluções de longo prazo, vamos organizar um encontro com os sindicatos a 23 de agosto”, segundo a porta-voz da companhia belga Maaike Andries, citada pela “Reuters”. Os sindicatos dos pilotos e dos tripulantes organizaram uma greve de três dias em junho devido à elevada carga de trabalho.

Em Portugal, mais de uma centena de voos foram cancelados este fim de semana e esta segunda-feira já foram cancelados outros 300 voos, segundo dados da ANA, citados pela “Lusa”.

A presidente da TAP Christine Ourmières-Widener já avisou hoje que a crise na aviação “não deverá melhorar nas próximas semanas”.

Na TAP, a empresa reduziu o corte salarial aos pilotos de 45% para 35%. Em toda a empresa, os cortes salariais de 25% passam a ser aplicados a partir dos 1.410 euros em vez de 1.330 euros, com retroativos a janeiro. Os pilotos decidiram não avançar para greve.

Só no Reino Unido foram cancelados 400 voos entre 24 e 30 de junho, mais 158% face a igual período de 2019, segundo dados da Cirium, citados pela “CNBC”.

Já a britânica Easyjet anunciou o cancelamento de milhares de voos durante o verão para tentar minimizar o caos. O diretor de operações da empresa, Peter Bellew, apresentou hoje a sua demissão.

Também no Reino Unido, a British Airways prepara-se para uma greve nas próximas semanas: os trabalhadores em Heathrow exigem a reposição de um corte salarial de 10% durante a pandemia.

Em Espanha, os trabalhadores da Ryanair anunciaram greves durante 12 dias em julho, exigindo melhores condições de trabalho.

Também em Espanha, os tripulantes da Easyet exigem aumentos salariais de 40% no seu salário base, argumentando que recebem muito menos do que em França ou na Alemanha, tendo marcado uma greve de nove dias em julho.

Em Paris, trabalhadores no aeroporto Charles de Gaulle vão realizar uma paragem nos dias 8 a 10 de julho, exigindo um aumento de 300 euros por mês nos seus salários. A operadora aeroportuária ADP ofereceu um aumento de 4%, mas os sindicatos já rejeitaram.

Na Alemanha, a tripulação de terra da Lufthansa exige um aumento de 350 euros por mês devido ao disparo nos preços devido à inflação.

Na Escandinávia, as negociações entre a companhia SAS e os pilotos foram hoje canceladas. Mil pilotos na Noruega, Suécia e Dinamarca vão entrar em greves com 50% dos voos da companhia a serem afetados, impactando 30 mil passageiros por dia, com custos até 12,6 milhões de dólares por dia.

“O ritmo a que os passageiros regressaram aos céus desde a primavera apanhou as companhias e os aeroportos de surpresa. Não têm o pessoal necessário agora que seria preciso para uma agenda preenchida de verão. São necessários mais trabalhadores”, disse o analista Alexander Irving da AB Bernstein à “CNBC”. Sobre as greves previstas, o analista destaca que “significa que é preciso pagar mais às pessoas e tratá-las melhor”.

Por sua vez, o analista Roger Jones aponta que o mundo foi rápido a desligar durante a pandemia, mas que voltou ao ritmo pré-Covid muito rapidamente.

“Durante a pandemia, a resposta de muitas empresas foi reduzir capacidade na expetativa de um longo período de baixo crescimento. Contudo, a pandemia trouxe outro resultado: a economia global foi desligada virtualmente e depois foi ligada de volta num curto espaço de tempo”, segundo Roger Jones da London & Capital. “Os custos de inflação, especialmente os de combustível e salários, estão a agravar a situação e a tornar difícil o ambiente operacional, o que está a pesar na rendibilidade”.

No aeroporto holandês de Schiphol, 15 mil trabalhadores da limpeza, gestão de bagagem e seguranças vão receber mais 5,25 euros por hora durante o verão. Também são necessários mais 500 seguranças. Antes da pandemia, o aeroporto empregava 68 mil trabalhadores, valor que caiu para os atuais 58 mil.

Em Paris, o Charles de Gaulle e Orly precisam de recrutar quatro mil trabalhadores para a segurança, manutenção e retalho. Mais de 20 mil trabalhadores perderam o seu emprego em Charles de Gaulle durante a pandemia.

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