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Capitais dos Estados: como são escolhidas e o que representam

Alavancada na enorme polémica em torno do reconhecimento de Jerusalém como capital de Israel por parte dos Estados Unidos, a britânica BBC produziu um ensaio sobre o significado de capital.
7 Dezembro 2017, 12h03

Por estes dias, todas as atenções estão viradas em Jerusalém, cidade que o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, reconheceu oficialmente como a capital de Israel, apesar dos avisos para não o fazer vindos de todas as partes do mundo – inclusivamente do interior do seu próprio gabinete.

A cidade – onde convivem com grande dificuldade locais sagrados para judeus, cristãos e muçulmanos – é um lugar único e simbólico, e seu estatuto é uma das questões-chave que dividem Israel e os palestinos, mas também Israel e o mundo Árabe e até mesmo Israel e os católicos.

Jerusalém, recorda a BBC, é a capital declarada de Israel e sede do governo, mas nenhum outro país reconheceu oficialmente essa qualidade. Até agora. “A discórdia sobre a decisão dos Estados Unidos levanta questões sobre o que as capitais representam, e porque elas estão localizadas onde estão”.

Há várias razões, nomeadamente quatro, para a BBC. A primeira tem a ver com o facto dea capital ser um meio de controlo e um símbolo de unidade. “A palavra ‘capital’ é originária do latim capitalis, que significa ‘da cabeça’”, recordam os britânicos. Como a cidade à frente de determinado território, ela está ligada ao Estado e deve ser sede do governo e da realiza, no caso das monarquias.

Por essa razão, diz a BBC, muitos capitais são construídas no centro dos países, para que sejam ao mesmo tempo representativas e acessíveis. Madrid está localizada precisamente no centro da Península Ibérica, enquanto Abuja, que se tornou a capital oficial da Nigéria em 1991, foi construída como uma nova cidade geograficamente central para significar a unidade de uma nação dividida.

Do mesmo modo, o Brasil mudou sua capital do litoral, Rio de Janeiro, para o interior, Brasília, em 1961 – a ideia era construir uma nova capital “para progredir para o interior do Brasil”, como o arquiteto Óscar Niemeyer, que a desenhou, escreveu. Mas o próprio Niemeyer sabia que isso seria um sonho impossível, como mais tarde diria num encontro que manteve com Jean Paul Sartre e Simone de Beauvoir.

A segunda razão de uma capital é, para a BBC, aquilo a que chama compromisso político. Ao contrário do Washington profundamente dividido de hoje, a fundação da capital dos Estados Unidos em Washington DC em 1790 foi fundamentada no compromisso político. Alexander Hamilton e os estados do norte queriam que o governo federal assumisse as dívidas e assinasse um acordo com Thomas Jefferson e James Madison, que queriam a capital no sul. George Washington escolheu o ponto exato no rio Potomac.

Na Austrália, muita gente fica admirada por Sydney não ser a capital – é Camberra, que terá sido escolhida como uma espécie de terceira via: um compromisso entre Sydney e a sua concorrente ao sul, Melbourne.

Em terceiro lugar, há as complicações da própria história. E a BBC avança com um exemplo: Berlim ou Bona? Essa foi a questão quando o Muro de Berlim caiu em 1989 e a Alemanha reunificou os dois territórios separados, tendo que escolher qual seria a capital – Bona, capital da Alemanha Ocidental, ou Berlim, capital da Alemanha Oriental. No Bundestag, o parlamento unificado, em 20 de junho de 1991, Berlim ganhou com 337 votos, ficando Bona com 320.

A África do Sul tem realmente três capitais: os serviços do governo estão divididos entre Cape Town (legislativo), Pretória (administrativa) e Bloemfontein (judicial), embora o Tribunal Constitucional esteja em Joanesburgo. Tudo isto data da criação da União da África do Sul, em 1910, depois de quatro colónias britânicas terem sido unificadas e não terem conseguido chegar a um acordo sobre a localização do capital. Em 1994, após o fim do apartheid, houve um movimento que pretendia a criação de uma nova capital, que fosse de algum modo o símbolo do renascimento do país – mas isso acabou por nunca acontecer.

Finalmente, diz a BBC, existe ainda o capricho dos homens fortes. Astana – que se tornou a capital do Cazaquistão em 1997 – é “um reluzente parque infantil futurista” que agrega as ambições autoritárias do presidente Nursultan Nazarbayev, no poder desde 1991.

Outro país – Mianmar (antiga Birmânia) – também tem uma capital remota: Nay Pyi Taw, construída em 2005 “como um refúgio isolado para o governo militar paranoico”, num momento em que o país começou sua transição para a democracia. A enorme capital tem todas as infraestruturas – estradas enormes, um jardim zoológico e campos de golfe – mas não tem pessoas.

Em Portugal, as capitais seguiram em primeiro lugar a rota da reconquista – Guimarães, Coimbra e Lisboa – e depois as vicissitudes da sua própria história: Rio de Janeiro e Angra do Heroismo.

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